Olhar Digital entrevista as duas maiores empresas do setor no Brasil e ambas concordam que a nuvem ainda tem muito por onde crescer |
Poucos usuários que, hoje, usam a nuvem extensivamente, através de Google Docs, DropBox e tantas outras aplicações inteiramente operadas na internet, sabem como foi o nascimento do chamadocloud computing. Um estudante sueco chamado Fredrik Malmer criou o primeiro serviço totalmente operacionalizado pela web. Em 1999, a então recém-nascida empresa "WebOS" comprou os direitos do sistema criado pelo jovem programador e licenciou diversas tecnologias criadas em universidades da Califórnia, Texas e Duke. Isso deu início ao que, futuramente, viria a ser chamado de "nuvem de informação". Isso tudo foi em 1999 - treze anos atrás. Adiante o relógio para 2012 e o quadro apresentado é o de uma ciência tecnológica consolidada: a cloud computing já deixou de ser "tendência" para virar "realidade", na forma de serviços de hospedagem, oferta de softwares e armazenamento de arquivos e, acredite, há quem compre espaços em nuvens para oferecer espaços em nuvem - ou seja, revender e terceirizar a infra-estrutura. Mas a Locaweb e a Alog/Equinix, duas das maiores provedoras de serviços em nuvem no Brasil, já pensam adiante e tentam prever como será o futuro da nuvem, de 2012 em diante, explicitando o que pode "vingar" para este negócio. Segundo Gilberto Mautner, CEO e co-fundador da Locaweb, o uso da nuvem no Brasil já é algo consolidado. Hoje, na opinião do executivo, não existe empresa que não disponha de uma conexão mínima de internet e, por consequência, faça algum uso mínimo de serviços em cloud, o que aponta para uma maior adoção da nuvem: "Hoje, enxergo uma enorme migração para a cloud - especialmente desenvolvedores de software", diz. Para ele, o setor de criação de aplicações deve ser o marco evolutivo da computação em nuvem para o ano de 2012: "Antes, softwares consistiam em kits de desenvolvimento, projetos especificamente criados para Windows, MacOS, Linux. Mas hoje, é cada vez maior a adoção de ferramentas na nuvem por parte dos desenvolvedores. Isso muda o modelo de negócios por causa da redução de custos relacionados a hardware e desenvolvimento", explica. Já Victor Arnaud, diretor de marketing e processos na ALOG/Equinix, define o aumento de capacidades técnicas, como espaço de memória, processamento e armazenamento, como o próximo passo evolutivo na nuvem: "Uma pesquisa do IDC feita no ano passado diz que o mercado brasileiro de cloud crescerá sete vezes até 2014 - são dois anos de espaço, apenas, mas a estrutura que temos hoje não comporta essa demanda. Espero que a eficiência e a quantidade de recursos aumente", diz. Algo que Arnaud defende, porém, é a questão da automação: no exemplo citado pelo executivo, um acesso via smartphone, atualmente, depende da escolha do usuário sobre qual sistema ele vai querer usar (Android, iOS etc.) - o que, por sua vez, determina quais recursos estarão disponíveis a ele. No futuro, porém, "essa decisão terá menos influência do consumidor, trabalhando para que a experiência de uso da nuvem seja a mesma, independentemente da plataforma usada". A isso, Arnaud deu o nome de "simplificação da experiência do usuário". Já Gilberto indica que os smartphones são apenas uma ponte entre o usuário e a nuvem, uma vez que, por mais que aplicativos sejam nativamente desenvolvidos dentro do portátil - seja um smartphone, um tablet - a essência do software em questão é o uso da nuvem, como por exemplo o iCloud. Ambos os executivos concordam, porém, que, independentemente de qual seja a próxima ramificação da cloud computing, novas empresas deverão entrar no mercado para oferecer recursos baseados na nuvem. Entretanto, Arnaud acredita que isso deverá ser mais focado em terceirização de recursos para hospedagem (a ALOG/Equinix, por exemplo, poderia ceder partes de sua "nuvem" para os clientes explorarem comercialmente, da forma que julgarem mais interessante). Já Mautner defende a popularização dos softwares criados, projetados e implantados diretamente na nuvem: "A cloud está, hoje, trazendo mudanças mais incrementais, com aplicativos e desenvolvimento de software. Enfim, a web está sendo vista como plataforma de software". O amadurecimento do cloud computing é algo que ambos os gestores defendem para este ano, algo que terá um efeito mais impactante na adesão de empresas à nuvem. Por mais evoluído que seja, há empresas que são resistentes quanto a entrar em um ambiente essencialmente "público" por questões de segurança da informação. Para Gilberto, esses temores são infundados: "O risco de segurança dentro da nuvem é o mesmo que o servidor próprio", diz ele. "O medo deveria ser justamente outro: é a mesma analogia do 'guardar dinheiro no colchão ou no banco'. No colchão, você vê o dinheiro, mas qualquer incidente pode dar fim a ele, enquanto o banco, mesmo que você não veja o seu dinheiro propriamente dito, tem uma estrutura maior para resguardá-lo". Arnaud diz que a adesão de grandes empresas é uma questão de abordagem realista: "precisamos mostrar material factual ao invés de projeções é o essencial, provar para o cliente que os medos dele são infundados - nós temos uma abordagem que se baseia na necessidade do cliente. Se não for o caso dele usar um ambiente cloud, mas algo híbrido, com parcelamento entre servidor dedicado e ambiente na nuvem, nós vamos recomendar isso a ele". Amazon no Brasil Falando em novos players no mercado nacional, não pudemos deixar de tocar no "assunto Amazon". Conforme noticiado pelo Olhar Digital em 15 de dezembro de 2011, a Amazon iniciou operações relacionadas à oferta de serviços para seu "Elastic Cloud 2" no Brasil. Qual foi o impacto dessa entrada entre os atuais provedores de serviços na nuvem? Gilberto Mautner falou de uma postagem no blog na Locaweb que exemplifica, através de testes, como seus serviços são mais indicados que os que a Amazon trouxe ao Brasil. Entretanto, tanto ele quanto Arnaud enxergam a entrada da gigante norte-americana no Brasil com bons olhos: "Falando em termos de mercado, achei muito bom. É uma empresa internacional que defende a bandeira do cloud computing", diz Gilberto, cuja opinião é complementada pela de Arnaud: "a chegada da Amazon mostra interesse no mercado brasileiro. Eles são uma evidência de que o nosso mercado é um dos mais atraentes do mundo. Parcerias internacionais que antes estavam, porventura, retraídas, tiveram decisões aceleradas somente com a vinda da Amazon. Só temos a ganhar com isso". |