O uso intensivo de serviços virtuais baseados na “nuvem” – grandes servidores espalhados pelo planeta – tem feito com que número crescente de usuários exija cada vez mais banda das companhias. O destaque fica para a TV via internet, que, grosso modo, usa a web como suporte para a veiculação de conteúdo audiovisual (IPTV), inclusive em alta definição. De olho na rentabilidade que essa demanda representa, o setor já se articula para oferecer através da fibra ótica um amplo de leque de serviços sob uma plataforma convergente. Na esteira deste movimento conjunto vem a competição que deve se traduzir em preços menores e melhoria da qualidade.
Os cinco conglomerados de telecomunicações do país confirmam projetos de ampliação das redes óticas, principalmente nos centros urbanos com maior renda per capita e adensamento populacional. São eles o grupo controlado pelo bilionário mexicano Carlos Slim, que congrega NET, Claro e Embratel; os espanhóis da Telefônica/Vivo e sua parceira TVA; a italiana TIM, que é dona da Intelig e da AES Atimus (hoje TIM fiber); a brasileira Oi; e a GVT, que pertence ao grupo francês Vivendi.
Abertura de mercado – O pontapé para essa ação simultânea das teles foi dado em 12 de setembro do ano passado, quando a presidente Dilma Rousseff assinou a Lei nº 12.485 – mais conhecida por nova lei da TV a cabo. A sanção implicou a liberação do segmento às operadoras de telefonia; a abertura para reorganizações societárias e aprofundamento de parceiras; e, por fim, a possibilidade de ofertar novos pacotes convergentes, inclusive com a venda de TV por assinatura via web. Livres de amarras legais, as empresas já não escondem a corrida para disponibilizarem estes serviços.
“A concorrência deve ficar mais forte daqui para frente. Logo, a TV paga deve ter seu preço reduzido. O que deve acontecer com a banda larga é que as pessoas terão pacotes mais velozes pelo mesmo preço, o que é o mesmo que reduzir tarifas”, disse o analista de telecomunicações do Banco Banif, Alex Pardellas.
A chegada das redes óticas deve mexer com o market share das teles. Antes dela, avançaram no segmento aquelas companhias que eram donas empresas de TV por assinatura via cabo coaxial – tecnologia que permite transmitir dados em alta velocidade e pacotes convergentes, mas ainda em velocidade bem inferior à das fibras. O destaque ficou para a Net, campeã em adições líquidas no ano passado.
“A vantagem da fibra é a possibilidade de oferecer maior velocidade de transmissão de dados, o que dá suporte a filmes e música para o público, bem como um uso mais intensivo de softwares e outros serviços”, disse o sócio da gestora de recursos Polo Capital, Cláudio Andrade.
Benefício para as teles – A fibra ótica também é economicamente vantajosa para as empresas de telecomunicação, que poderão incluir novos produtos em seus portfólios. Basicamente, pesados recursos são despendidos para adaptação e construção de redes, com destaque para a fase de implementação. Feito o investimento, a nova infraestrutura permite a adição de milhares de usuários e a exploração diversos serviços. Desta maneira, a amortização do gasto é uma consequência não muito distante e o que vem depois é lucro – um expressivo lucro.
“A expansão das redes de fibra ótica vai ser intensa em 2012. As principais operadoras do país já lançaram seus planos de negócios para investir no setor e assim ganhar o público com novos serviços – além de aumentar a lucratividade”, disse o presidente da consultoria em telecomunicações, Eduardo Tude. “A tendência é o oferecimento dos chamados ‘combos’ aos usuários, o que permite preços menores. Na verdade, os valores dos serviços já começaram a baixar. Onde a rede chega, o serviço começa e já é mais barato”, afirmou Tude.
O que vem por aí – Embora não divulguem valores, todas as empresas confirmam a tendência para este ano. A Oi – que já possui uma rede de fibra ótica com extensão de 178 mil quilômetros quadrados, a qual cobre o território brasileiro e se interliga aos Estados Unidos, Bermudas e Venezuela – ratificou seus planos para expansão da estrutura, com o foco no aumento da penetração de banda larga fixa nas residências.
Já a TIM concluiu, em 28 de dezembro, o processo de aquisição da AES Atimus – empresa de telecom antes pertencente à distribuidora de energia elétrica AES Eletropaulo, com mais de 5.500 quilômetros só de fibra ótica. Em 2012, o grupo italiano pretende ofertar pacotes de serviços com base nesta rede a 21 cidades dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. A ideia é misturar a oferta de serviços fixos com móveis aos clientes.
A Telefônica, hoje unida à Vivo, já disponibiliza banda larga ultra rápida e TV por assinatura via internet a residências com o serviço Fibra, em parceria com a TVA. Desde 2009, a operadora é a que mais tem investido em fibras óticas domiciliares no Brasil – atualmente sua rede chega a aproximadamente 1 milhão de residências, mas somente no estado de São Paulo. A expectativa é que os serviços móveis da Vivo sejam agregados aos pacotes já oferecidos pela tele fixa.
A NET já se faz presente no mercado de TV por assinatura, banda larga, telefonia fixa, vídeo sob demanda e transmissões em HD 3D, além de conexões sem fio através de Wi-Fi. Em outubro do ano passado, em parceria com a Claro e a Embratel, começou a oferecer os chamados combos multi, que trazem tudo isso mais planos de celular e de 3G para smartphones e notebooks. Com a autorização, dada no último dia 26, para que o empresário mexicano Carlos Slim amplie sua fatia de capital na NET, espera-se que a integração entre as empresas se intensifique. Ao site de VEJA, contudo, o grupo não divulgou seu plano de expansão.
A GVT – que já comercializa internet de 100 Megabits por segundo (Mpbs) via rede ótica aos clientes finais e também pacotes que reúnem o serviço aliado a IPTV e telefonia fixa – tampouco divulga seu plano de expansão em fibra para 2012. Como a operadora é que atualmente possui a maior base de usuários com ultravelocidades de internet (67% dos clientes utiliza 10 Mbps e acima), o mercado espera que a política tenha continuidade.
Concentração geográfica – As redes de fibra ótica concentram-se hoje em regiões mais ricas e populosas, principalmente ao redor das capitais paulista e fluminense. E isso não deve mudar. “Na verdade, as empresas interessam-se pelas áreas com maior poder de consumo. Então é de se esperar que os investimentos aconteçam preferencialmente nesses locais. Como em qualquer negócio, a decisão de investir ou não depende da viabilidade econômica. Não adianta sair investindo em fibra ótica sem ter retorno”, disse Pardellas.