quinta-feira, 9 de agosto de 2012

COMPUTERWORLD: Nova política nacional de software vai incentivar serviços na nuvem


Plano estratégico traçado pelo governo federal envolve ações para regulamentar, fomentar e criar padrões para o modelo no País. Algumas das medidas estarão contempladas no programa “IT Maior”, que será lançado em 20/08.
EDILEUZA SOARES


O Brasil está traçando um plano estratégico para impulsionar a adoção dos serviços de cloud computing no País, envolvendo ações para setor público e privado. A iniciativa é do governo federal e algumas das medidas vão fazer parte do programa “IT Maior”, nova política nacional de software, que será apresentada pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, em São Paulo, no próximo dia 20/08.

Aguardado com muita ansiedade pela indústria de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), o IT Maior, que vem sendo alinhavado pelo governo federal desde o ano passado, promete uma série de medidas e incentivos para aumentar a competição do software brasileiro frente aos importados e reduzir os índices de pirataria.

Um capítulo especial desse programa é o de cloud computing, que traz um conjunto de medidas para fomentar a venda de aplicativos da indústria nacional, principalmente das micro e pequenas empresas pelo modelo de software como serviços (SaaS).

A estratégia nacional de software está sendo desenhada pelo governo federal com base em um diagnóstico que avaliou dez países que têm experiências bem-sucedidas. "Percebemos que a computação em nuvem é um assunto quente e estruturamos um conjunto de medidas para focar esses serviços e apoiar o setor ”, informa Rafael Moreira, coordenador de software e serviços do MCTI, que esteve ontem à tarde em São Paulo, participando do evento CloudConf LatAm 2012.

O IT Maior detalha questões sobre fomento, marco regulatório, pesquisas e desenvolvimento (P&D), aspectos de segurança e como serão as compras governamentais de sistemas em nuvem.

O técnico do MCTI destaca a necessidade de um alinhamento entre setor privado e público para incentivar a cadeia de cloud computing no Brasil, que é um modelo novo que gera tanto oportunidades quanto ameaças. Ele observa que o mercado nacional de TIC vem ganhando importância nas discussões do governo federal pelo seu tamanho.

Segundo a consultoria IDC, o setor de TIC movimentou 197 milhões de dólares em 2011 e respondeu por 4,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Para dar ideia dessa dimensão para as outros órgãos do governo federal, o MCTI compara que o peso dessa indústria na economia do País é próximo ao da automobilística.

Da receita total de TIC em 2011, o setor de software respondeu por 6,1 bilhões de dólares. As metas da indústria são de chegar em 2020 com faturamento de 20 bilhões de dólares. Segundo Moreira, esse segmento se tornou prioridade no Brasil e tem potencial para virar o jogo e pelo cenário favorável do País, com posição de destaque nos rankings mundiais de navegação da internet, consumo de celulares, vendas de PCs e uso de redes sociais.

“Temos que traçar uma estratégia de P&D, atrair cérebros internacionais para trabalhar no Brasil e formar talentos para aproveitar esse cenário de TI”, enfatiza Moreira, destacando que o País é um grande consumidor de software e aplicações críticadas como é o caso das indústrias de mineração, energia, saúde, educação e finança. Ele acredita ser possível criar uma cadeia para explorar serviços na nuvem, com modelos envolvendo os setores privado e público.

Políticas de incentivo 

Entre as iniciativas para impulsionar o modelo de cloud computing no Brasil, Moreira anunciou que somente o MCTI deverá destinar 50 milhões de reais nos próximos dois anos. Os recursos serão aplicados em programas para apoio empresas que vão explorar esse mercado.

Como parte desse esforço, a Financiadora de Projetos Especiais (Finep) apresentará ainda este ano uma linha de crédito para projetos de inovação em nuvem. Os recursos serão liberados por meio de subvenção econômica do órgão de fomento do MCTI.

O plano estratégico avalia também a adequação de infraestrutura para processamento das aplicações em nuvem. O técnico do MCTI observa que o Brasil é o mercado da América Latina com maior oferta de data centers e com espaço para crescer. Porém, tem o gargalo das telecomunicações, que é uma das barreiras para contratação dos serviços devido aos altos custos da conectividade.

O técnico compara que os gastos para operar um data center em Miami (EUA) são baixos que os do Brasil. Sua expectativa é que a rede de telecomunicações que a Telebrás está construindo consiga reverter esse quadro para incentivar a adoção do modelo de cloud computing.

Infraestrutura do governo federal 

Em paralelo ao IT Maior, o governo federal está desenvolvendo o seu modelo de adoção de cloud computing. Um projeto está sendo criado pelo MCTI em parceria com Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, estabelecendo regras da administração federal para pisar nas nuvens.

Um Comitê Interministerial foi formado pelos dois órgãos com participação de empresas estatais para definição da plataforma padrão que será usada para processar aplicações do setor público na nuvem. Segundo Rafael Moreira, já estão rodando uns seis pilotos envolvendo a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC).

Durante esses pilotos, o grupo tentará buscar padrões para que a plataforma de serviços de cloud seja compatível com os sistemas de TI de outros órgãos e do mercado. Esse trabalho deverá contar com participação também do setor privado.

Além da busca de padrões, o governo federal está definindo questões regulatórias. Uma delas é a criação da lei de proteção para dados pessoais para garantir a segurança das aplicações da saúde pública que vão trafegar pela nuvem. Um projeto de lei está em fase final de elaboração pelo Ministério da Justiça para ser enviado ao Congresso Nacional. Moreira lembra que o Brasil é o único mercado do Mercosul que não tem regulamentação nessa área.

Outros desafios que o governo federal precisa enfrentar para entrar na nuvem são as definições de como serão as compras governamentais de tecnologia pela modalidade de serviços e formar talentos para orquestrar sua infraestrutura de cloud.

O coordenador de software e serviços do MCTI adiantou que o problema da falta de mão de obra especializada nessa área será atacado com a criação de um programa de treinamento para jovens em parceria com universidades e instituições federais de cursos técnicos. São elas que vão se unir com a indústria para oferecer capacitaçã em cloud computing a estudantes de cursos da graduação e do ensino médio.

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