quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Convergência Digital: Deputados apresentam pedido de CPI sobre telefonia

Deputados apresentam pedido de CPI sobre telefonia
                                                                                                                        Luís Osvaldo Grossmann

Há anos bradada como necessária para investigar diferentes problemas nas telecomunicações, mas até então sem sucesso, uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi formalmente pedida nesta quarta-feira, 8/8, à mesa diretora da Câmara dos Deputados.

O pedido de CPI angariou 246 assinaturas – bem acima das necessárias 171 – e foi articulado por três deputados do Rio Grande do Sul: Ronaldo Nogueira (PTB), Jerônimo Gorgen (PP) e Nelson Marchezan Junior (PSDB), que agora trabalham para que o pedido avance na fila de requerimentos apresentados à Câmara.

O momento ajudou. Desde que as teles foram proibidas de vender novas linhas em Porto Alegre-RS, em meados de julho, até posterior decisão semelhante da Anatel em âmbito nacional e, finalmente, a denúncia contra supostas fraudes da TIM, sobraram deputados para apoiar o pedido.

O principal foco das investigações é o uso, considerado abusivo, das tarifas de interconexão. “É um tentativa de identificar quanto a sociedade perdeu, uma vez que não temos dúvida de que ao longo dos anos foi cobrado mais do que o necessário para a prestação do serviço”, resume Goergen.

Ele mesmo é autor de três projetos de lei no campo das telecomunicações: um deles obriga as empesas a não venderem novas linhas se não houver condições técnicas, outro elimina o prazo de validade de cartões pré-pagos e o terceiro retira dos municípios a competência sobre a instalação de antenas.

“Foi um trabalho conjunto importante. Já tinha apresentado os três projetos, Nogueira sugeriu a CPI e Marchezan articulou com o Ministério Público. Ao invés de querermos disputar politicamente, resolvemos nos unir”, revela o deputado gaúcho.

Com o pedido de CPI formalizado, ainda resta viabilizar a instalação da Comissão Parlamentar. O regimento da Câmara permite até cinco CPIs simultâneas – e há duas em funcionamento. Mas a fila de requerimentos é grande. “Tem outras na ordem, mas se o presidente Marco Maia concordar, pode instalar imediatamente. Entendemos que é uma questão de interesse nacional”, diz Goergen.

Cientes das pressões – o Ministério das Comunicações já se manifestou ser contra a CPI – o grupo atua em outras frentes. Uma delas junto ao Tribunal de Contas da União. “Falamos hoje com o Augusto Nardes e ele garantiu que o TCU também vai abrir uma investigação sobre a telefonia”, adianta o parlamentar, referindo-se o ministro do tribunal, por sinal também gaúcho.

Outra frente está em um pedido para que a Câmara institua uma comissão externa para acompanhamento das medidas determinadas pela Anatel para permitir que TIM, Claro e Oi pudessem voltar a vender linhas novas de voz e dados.

Nesta mesma quarta-feira, porém, o ministro Paulo Bernardo declarou que a investigação, como proposta nos objetivos da Comissão Parlamentar, é “um desperdício”. “Não é viável uma CPI porque o assunto que querem discutir deve ser tratado em regulamentação”, afirmou.

É que o presidente da Anatel, João Rezende, garante que o assunto já está sendo tratado. “Estamos buscando novas reduções na tarifa e tratando do que vemos como ‘clubes exclusivos’ de ligações na própria rede de cada empresa. Entendemos que esses ‘clubes’ são ofensores da qualidade, porque pressionam demais as redes, e devem acabar”, afirmou Rezende.

Tais “clubes exclusivos” se devem ao incentivo que a tarifa de interconexão propicia a planos de serviço com benefícios para chamadas feitas para números de uma mesma operadora. E, ao priorizar as ligações intrarrede, consequentemente serve de desincentivo à qualidade geral do sistema.

Grande vilã

O requerimento de CPI sustenta que a tarifa de interconexão “é a grande vilã que torna tão caro falar ao celular no Brasil”. O deputado Ronaldo Nogueira argumenta que a Lei Geral de Telecomunicações prevê, em seu artigo 152, que a interconexão deve ter “preços isonômicos e justos, atendendo ao estritamente necessário à prestação do serviço”.

Mas com um dos valores mais altos do mundo para essa tarifa – cerca de U$ 0,24, contra US$ 0,01 na Índia, US$ 0,03 na Indonésia, China e mesmo na Europa – esse componente se tornou fator fundamental na receita das empresas. De fato, segundo a Anatel, a tarifa de interconexão representa entre 35% e 54% da receita operacional líquida das quatro principais operadoras.

Para Nogueira, “o Poder Legislativo não pode ficar inerte aguardando que a Anatel exerça de forma efetiva suas prerrogativas legais enquanto todos os usuários dos serviços de telefonia móvel no Brasil são obrigados a conviver com uma das mais altas tarifas do mundo”.

O pedido de CPI também se baseia em um processo administrativo instaurado em 2010 pela então Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça – agora parte do novo Cade. Para a SDE, as operadoras Vivo, TIM e Claro “cometeram infração contra ordem econômica, uma vez restou comprovada a prática eliminação da concorrência no setor de telecomunicações por meio das cobranças de tarifas abusivas de interconexão”.

O presidente da Anatel, no entanto, reiterou durante audiência no Senado, nesta quarta-feira, que novas medidas sobre essa questão devem ser adotadas pela agência. Veja na CDTV.


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