Aconteceu. Os esforços de Mark Zuckeberg nos últimos meses pra transformar o Facebook em um negócio móvel fez com que, pela primeira vez, o número de usuários que acessam diariamente o site através de um smartphones ou tablets tenha superado o número dos que acessam pelo computador. O número exato, a rede social evitou divulgar.
Além disso, as receitas do Facebook com publicidade cresceram em ritmo acelerado no último trimestre de 2012, o ritmo mais intenso desde antes da oferta inicial de ações (IPO) em maio, ajudando a receita da companhia a expandir 41% no período.
Boas notícias, certo? Então porque as ações da rede social recuaram 5,9% para 29,40 dólares no after-market, logo após a publicação dos resultados? O que explica o mau humor do mercado?
Há pouco mais de um ano, a área de dispositivos móveis do Facebook mal existia. Receita então…. Os acionistas reclamaram, cobraram… Depois do IPO a rede social redefiniu prioridades e passou a apresentar sinais claros de ter entendido o recado e estar acertando na estratégia de dar mais ênfase a anúncios em dispositivos móveis e permitir que anunciantes passassem a mirar usuários baseados em seu histórico de navegação. E ontem, Zuckerberg começou a mostrar à Wall Street que finalmente descobriu como ganhar dinheiro com sua vasta gama de usuários móveis. O que, então, continua desagradando grande parte dos analistas e investidores?
Talvez a explicação esteja, em parte, na fala de Mike Shaver, diretor de engenharia móvel do Facebook, em entrevista ao Wall Street Journal: “Se vamos nos tornar uma empresa móvel de grande escala, precisamos fazer algo qualitativamente diferente”.
O Facebook ainda precisa de uma iniciativa de impacto no mercado de mobilidade. E ela não passa pelo lançamento de um smartphone com a marca da emprresa.
Precisa também aumentar o valor da publicidade móvel, hoje mais baixo que o cobrado na publicidade Web. Caso contrário, a inversão de plataformas, com maior número de usuários usando a rede social através dos dispositivos móveis, pode não ser suficiente para compensar uma possível queda da receita da publicidade no desktop.
A receita da publicidade móvel cresceu consideravelmente no quarto trimestre, é verdade. Dobrou. Mas ainda assim responde por menos de 1/4 da receita total com publicidade declarada pela rede social no quarto trimestre, de 1,33 bilhão de dólares, que por sua vez é 84% da receita total da rede social. Olhando por outro prisma, a publicidade móvel do Facebook respondeu por cerca de 20% da receita total do quarto trimestre, de 1,585 bilhão de dólares, contra cerca de 14% da receita total do Facebook no terceito trimestre, de 1,26 bilhão de dólares.
São essas as contas que muitos dos descontentes estão fazendo. O potencial de crescimento do Facebook é imenso. Mas o ritmo, por mais que esteja acelerado, ainda está distante daquele que a rede social precisa ter para ser considerada forte concorrente ao negócio de publicidade do Google. O ritmo também não é rápido o suficiente para suportar o preço das ações da rede social, como argumenta muito bem Mark Hulbert, no MarketWatch.
O Facebook teve 1,06 bilhões de usuários ativos no final de dezembro, o que significa que eles geraram 1,54 dólares em receita em cada um dos últimos 3 meses de 2012. Um ano atrás, esse número foi de 1,38 dólares.
Particularmente, estou entre os que acreditam que a nova Graph Search tem potencial de sobra não só para evitar que a rede social perca receitas preciosas no mercado desktop, quanto paramaximizar essas receitas por um longo tempo, dando à empresa o fôlego necessário para completar sua viagem rumo à mobilidade. E que creem que a parceria com a Microsoft no mercado de buscas pode ajudar a roubar um pouco das receitas do Google no mercado de publicidade associada aos resultados de busca na Web.
Mas outro motivo para o mau humor do mercado pode estar no fato de, por uma série de outros fatores, o lucro ter caído 79% no quarto trimestre de 2012 comparado ao mesmo período do ano anterior, para US$ 64 milhões. A taxa de crescimento do Google no quarto trimestre foi de 36%. A receita? De 14,42 bilhões dólares. E o lucro líquido do Google? Nada menos que 2,89 bilhões de dólares. O que torna os números do Facebook muito pequenos.
Com uma taxa de crescimento de 40%, em média, o Facebook levaria décadas para atingir as receitas do Google, mesmo que as vendas do Google caim um pouco.
O Facebook não é o próximo Google. Ao menos não aos olhos dos investidores, que ainda duvidam que a rede social será capaz de faturar mais com usuários conectando-se a partir de dispositivos móveis do que a partir de desktops. O que por si só justifica o atual humor de Wall Street.
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