quarta-feira, 3 de abril de 2013

CORREIO X9: Ferramenta permite rastrear quem fala mal do patrão na internet


Para a alegria de patrões e desespero de empregados, pesquisadores da Universidade de Hannover, na Alemanha, em parceria com a PUC-Rio, criaram o FireMe!

Thais Borges

“Como eu queria que meu chefe morresse lentamente... Não aguento mais aquele idiota. Ainda bem que só faltam 39 dias para o meu contrato acabar, daí vou ficar livre de olhar na cara dele”.

Você se identificou? Já saiu dizendo isso por aí? Ou pior, postou no Twitter, no Facebook, no Tumblr e até no Instagram — com direito a foto? Se você ainda é desses que acha que internet é terra de ninguém, é melhor rever os seus conceitos.

Para a alegria de patrões e desespero de empregados, pesquisadores do centro L3S, da Universidade de Hannover, na Alemanha, em parceria com a PUC-Rio, criaram o FireMe! (em tradução livre, Me Demita!).

O site (goo.gl/Gxz3e) foi criado em junho do ano
passado e nos últimos quatro dias, teve 75 mil 
acessos.

De acordo com o desenvolvedor do projeto, o engenheiro de computação Ricardo Kawase, a ideia para o FireMe! surgiu depois que ele assistiu a um seminário sobre as consequências da exposição de dados online.

“Ao sair do seminário, eu comecei a pesquisar no Twitter por vazamento de informações sensíveis — no caso, pessoas que falam mal do trabalho. Ao ver a quantidade abundante de casos, comecei a montar o site”, contou ao CORREIO Kawase, que faz doutorado na Universidade de Hannover.

Funciona assim: tudo que você postar, utilizando algumas palavras como “trabalho” e “chefe” combinadas com outras como “odeio” e “matar”, vai parar lá, em tempo real. Mas calma. Por enquanto, o site monitora apenas os comentários postados no Twitter, em contas públicas.

“É possível ampliar. Contudo, Facebook e outros (sites de rede sociais) possuem mais restrições de privacidade”, pontuou Kawase.

Desinibição

Mas ninguém tem ficado mais inibido por isso. Tem gente como o usuário @matheusfuzi11, que anda desejando até o mal para os superiores. “Na real meu chefe me sacaneou, me deixou sem grana pro feriado, tomara que sofra um acidente! fdp (sic)”.

A usuária @thenameismarie foi mais além: “No momento querendo que meu chefe morra lentamente”. Tudo bem público e devidamente assinado.

Já o usuário Henderson Dourado (@hdourado) foi desabafar com um amigo e postou: “O meu chefe é um escroto cara. Odeio ele. Cara exigente do cacete”. Acabou indo parar no radar do FireMe!. Mas ao ser procurado pelo CORREIO, ele ficou surpreso e contou que estava falando de si mesmo. 

“Eu tenho minha própria empresa. Eu acho que um funcionário é a imagem da empresa, mesmo estando fora dela”. Mas se ele fosse um subordinado em sua empresa, teria 55% chances de perder o emprego, segundo o site.

O FireMe! ainda classifica os twitteiros. Tem os “Maus Empregados”, que são aqueles que só reclamam do trabalho nos comentários. Há também a categoria “Chefes Intragáveis”, que reúne todos os adjetivos carinhosos com que os patrões são tratados, além da seção “O Chefe que se...”, acompanhada de palavrões.

E, claro, não dá para esquecer dos “Assassinos em Potencial”. Lá, estão os ânimos mais alterados, como de @nonameyeah, que escreveu “Quero matar minha chefe p n ter q ir trabalhar amanhã (sic)”.

Justa causa

Trabalhando em um órgão federal há mais de um ano como estagiário, o estudante Mateus (nome fictício) correu do radar. Há duas semanas, ele twittou sobre a chefe e os colegas, quando foi alertado por um amigo. “Agora, fico me policiando”. Felizmente, ele acha que ninguém do trabalho viu. “Não sei se rescindiriam meu contrato, mas poderia ter algum problema”.

Segundo a advogada trabalhista Luciene de Carvalho, o problema pode ser desde uma simples advertência, uma suspensão ou até demissão por justa causa. “Se você desrespeita um superior publicamente, xinga um colega ou publica um segredo da empresa, pode ser motivo de (demissão por) justa causa”.

Mas se, ainda assim, você quer desabafar, há uma opção. #Ficaadica: o FireMe! só funciona em inglês e português. Quem quiser pode xingar em francês, alemão, japonês ou russo... Fique à vontade.

Empresas têm monitorado funcionários

Não é só o Twitter que vem sendo foco de atenção de empresas e recrutadoras, tanto para contratar quanto para manter os funcionários. Se você passa mais tempo no Facebook ou no Google+, também precisa ter atenção com o que vai compartilhar.

De acordo com o personal coach Ricardo Aderaldo, que trabalha com consultoria empresarial, as empresas não querem ter conteúdos negativos associados à sua própria imagem por assimilação.

“A partir do momento que se coloca uma informação na rede, passa a fazer parte de sua vida pública. São redes de relacionamento nas quais a vida está sendo exposta de maneira integral”, explicou.

Uma vez no domínio público, a informação postada pode ser documentada pela empresa e usada para o desligamento do funcionário ou para o descarte de um candidato a uma vaga. Para Aderaldo, mesmo quem tenta administrar dois perfis — um pessoal e outro profissional — acaba deslizando, em algum momento.

“Não dá certo, porque (as redes sociais) são de grande abrangência. Um amigo compartilha com outro e a informação acaba se espalhando”. De acordo com ele, os usuários das redes sociais nem sempre percebem que estão sendo vistas.

“Elas não têm noção da abrangência. É preciso ter em mente que, numa rede social, a pessoa já não tem o domínio sobre o comentário postado”, enfatizou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

deixe aqui seu comentário