Com as novas tecnologias vestíveis, será que elas contribuirão para um mundo com menos acidentes ou ajudarão a aumentar os casos?
Eu acabei com o meu carro quando eu tinha 16 anos.
Eis o que aconteceu: foi no meio do dia, e eu estava ouvindo o rádio do carro enquanto dirigia. Comecei a mexer com o rádio enquanto eu dirigia para um cruzamento que estava com o farol aberto. O segundo que eu olhei para o rádio, a luz mudou. No momento em que eu olhei para cima, eu estava passando pelo cruzamento. Meu carro chocou-se contra um Cadillac novinho que vinha pela minha direita. Com o impacto, os dois carros deslizaram em direção a um canto, prendendo um terceiro carro contra o meio-fio.
Eu tive sorte. Ninguém ficou ferido e o seguro pagou por tudo. Mas eu aprendi uma lição que me manteria sempre fora de outro acidente de carro: motoristas distraídos são perigosos.
Então vamos proibir gadgets para os motoristas, certo?
O cineasta Werner Herzog fez um documentário sobre os perigos de escrever mensagens de texto enquanto dirige, que recebeu o nome de "De um segundo para o outro". No filme, Werner cita números do Conselho Nacional de Segurança: enviar SMS enquanto se dirige provoca 100 mil acidentes por ano.
Para essa afirmação ser verdade, também teria de ser verdade que 100 mil acidentes foram adicionados ao número total de acidentes ocorridos por outras razões. Olhando a partir desta perspectiva, é um argumento difícil de dizer - desde 1996, as taxas de acidentes nos EUA caíram de um ano para o outro, ano a ano, exceto em dois.
Assim, à medida que o uso do telefone celular e, em seguida, mensagens de texto ficaram mais comuns, o número de acidentes nos Estados Unidos caiu. Onde estão os 100 mil acidentes extras? Eles são difíceis de encontrar nas estatísticas gerais.
Parece possível para mim que são os motoristas distraídos (como o meu eu de 16 anos) que causam os acidentes e não os acidentes que são causados por qualquer objeto que distraia os motoristas.
Em outras palavras, sim: distração por mensagens de texto provoca acidentes, mas esses mesmos motoristas distraídos, provavelmente, encontram outras coisas para se distrair que não as mensagens de texto. Eu vejo pessoas enviando SMS enquanto dirigem. Mas também tenho visto pessoas que leem o jornal, que colocam maquiagem, comendo, cutucando dispositivos GPS, argumentando com os passageiros, alcançando o banco de trás para interagir com as crianças, acendendo cigarros e assim por diante.
Os motoristas que fazem essas coisas são descuidados, não entendem os riscos ou simplesmente não se importam.
Eu acho que fazer leis que minimizem os acidentes causados por motoristas distraídos é uma boa ideia. No entanto, estou incomodado por esse óbvio viés contra a tecnologia. Parece que quanto mais avançada a tecnologia, maior é a tendência. E esta tendência em si pode ser perigosa.
Tecnologias mais avançadas podem muito bem ajudar a reduzir acidentes relacionados à distração.
O fervor para criminalizar o Google Glass
A mais avançada tecnologia que eu uso é o Google Glass. É tão avançada que nem sequer existe ainda - pelo menos como um produto de consumo disponível para o grande público.
Várias pessoas com tendências anti-tecnológicas não pode esperar para banir o Glass para os motoristas. Por exemplo, o gadget já foi formalmente proibido no Reino Unido. E já na semana passada, uma mulher de San Diego chamada Cecilia Abadie foi multada por usar o Glass enquanto dirigia (ela também foi multado por excesso de velocidade).
O policial não fez uma lei contra o uso do dispositivo. Ele citou a motorista por um direito real, que essencialmente torna ilegal o uso de qualquer tipo de tela de vídeo enquanto conduz (Abadie afirma que ela não estava usando o aparelho, que estava desligado).
Eu não posso saber dos detalhes. E nem o policial. É quase certo de que ele, na verdade, não sabia se o Glass estava ligado ou não. É muito mais provável que ele a mandou parar, viu os óculos, experimentou um momento que o jornalista e professor Jeff Jarvis chama de "techno pânico" e advertiu-a por estar distraída por causa da sua tecnologia avançada.
Se olhar para uma tela é ilegal, então por que não advertir todos os motoristas que usam GPS? E por que a lei é tendenciosa contra "telas"? Como os displays digitais são mais distrativos do que os botões analógicos e controles?
E por que distrações baseadas em eletrônicos são proibidas, enquanto as não-eletrônicas não o são?
Vamos dizer que há um acidente e polícia encontra nos destroços um jornal, um rádio, um aparelho de GPS, um passageiro, um sanduíche meio comido e um smartphone com uma mensagem de texto não lida. Eles provavelmente vão atribuir a causa do acidente às mensagens de texto, por nenhuma outra razão além do preconceito contra a tecnologia.
Uma descoberta surpreendente
Lembra-se do movimento "desligue e dirija!", com adesivos associados? Antes dos SMS serem tão populares quanto agora, todo mundo estava abismado com a distração causada por falar em celulares.
No entanto, um estudo realizado pela Carnegie Mellon University e pela London School of Economics analisou mais de 8 milhões de acidentes de carro e mortes nas estradas de todos os tipos, à procura de (entre outras coisas) correlações entre motoristas que falam em telefones celulares e acidentes.
Para a surpresa deles, eles não encontraram nenhuma correlação. Quando o número de telefonemas subiu, por exemplo, o número de acidentes de carro não subiu.
O estudo sugere que é possível que nossas suposições sobre a tecnologia podem estar incorretas. E o impulso de proibir tecnologia super avançada, como o Glass, também pode estar errado.
E se o Google Glass for a solução?
A proibição dos óculos high-tech do Google no Reino Unido foi decretada sem provas ou estudos concretos - de fato, até onde eu sei, sem um único relatório do Glass ser causa de um único acidente.
Enquanto isso, as distrações que listei anteriormente são conhecidas por terem causado acidentes de carro fatais - ainda que elas permaneçam perfeitamente legais.
Nesse argumento, o Google Glass é um substituto para duas grandes categorias de tecnologias que, em breve, serão utilizadas: dispositivos de computação vestível e displays acoplados à cabeça.
Dentro de três anos, milhões de pessoas estarão usando computadores vestíveis - principalmente smartwatches - enquanto dirigem. Muitas pessoas vão querer usar os óculos do Google, também.
Os carros cada vez mais terão displays acoplados à cabeça, onde os carros e dados contextuais - incluindo textos e outras notificações vindos a partir do smartphone do motorista - aparecerão não no painel, mas sobrepostos às bordas do próprio parabrisa. Alguns carros de luxo já têm isso.
Estes displays acoplados à cabeça são melhores, porque causam menos distração; você pode vê-los com a sua visão periférica ao invés de ter que tirar os olhos da estrada para olhá-los diretamente.
Ou mesmo se você realmente olhar para a tela, a distância que seus olhos percorrem é mais curta que a distância percorrida com outras tecnologias - por isso a estrada continua em sua visão periférica, enquanto você toma nota das informações.
E esse é precisamente o argumento pelo qual um motorista usando o Glass pode estar mais seguro do que aqueles que não o estão usando. O dispositivo não cobre os olhos. Usado durante a condução, a tela é significativamente maior do que, digamos, o espelho retrovisor. Sua visão não é obstruída e, ao contrário de um espelho, o Glass pode ser movido com um simples movimento de sua cabeça.
O gadget é hipersimplificado e curto, e você pode usá-lo sem tirar os olhos da estrada ou com um olhar - que é mais rápido do que, digamos, baixar os olhos para o telefone no assento do passageiro, como milhões de pessoas fazem atualmente todos os dias.
Isso pode ser verdade também para um smartwatch. Com as mãos no volante e os olhos na estrada, você pode mentalmente registrar um alerta para o relógio com um pequeno giro de seu pulso e uma olhada de meio segundo. Se essa ação substitui o movimento de pegar o smartphone, deslizar a tela e olhar para ela, então o mundo pode ser um lugar mais seguro.
As tecnologias avançadas, como smartphones de última geração, o Google Glass e smartwatches também podem saber que você está dirigindo e agir em conformidade.
O meu smartphone Moto X, por exemplo, muda automaticamente para o modo de voz para algumas notificações quando detecta que estou no carro.
Se eu receber uma mensagem de texto no carro, o telefone pergunta se eu quero ler a mensagem em voz alta. Se eu quiser, eu posso dizer apenas "send text" e o telefone irá responder com um SMS meu à outra pessoa, dizendo que estou dirigindo e que vou contatá-la mais tarde.
É quase certo que as tecnologias vestíveis farão isso também. E mais, elas provavelmente serão capazes de alertar os condutores sobre obstruções à frente e outros perigos.
Em geral, elas podem reduzir as distrações e melhorar a segurança. Então, vamos todos resistir ao desejo de proibir as novas distrações simplesmente porque são novas. Vamos manter a mente aberta, e as leis baseadas em fatos e na razão em vez de preconceitos e techno pânico.
É muito provável que motoristas descuidados o suficiente para se distraírem sejam a principal causa de acidentes atribuídos a mensagens de texto enquanto se dirige.
A melhor solução seria a de inventar um motorista melhor (e o Google trabalhar nisso, também). Mas, enquanto isso não acontece, vamos considerar a possibilidade de uma melhor distração.
Fonte: Elgan, Mike. "Opinião: tecnologias avançadas são ajuda ou distração para motoristas? - IDG Now!." IDG Now!. N.p., n.d. Web. 6 Nov. 2013. .
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