segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Folha de S.Paulo: Computadores podem ser conscientes em 30 anos, dizem estudiosos

YURI GONZAGA

A computação está evoluindo rápido, e cada vez se acelera mais –isso é praticamente um consenso entre especialistas. Mas essa celeridade, defendem alguns deles, pode nos fazer perder o controle sobre as máquinas.

O primeiro computador Macintosh, que completou 30 anos na semana passada, tinha memória 8,4 milhões de vezes menor e um processador que rodava em frequência 163 milhões de vezes inferior em relação ao iPhone 5s, da mesma Apple.

Adicione outros 30 anos e estaremos vivendo a "singularidade tecnológica", o momento em que computadores superarão o cérebro humano de tal forma que é impossível prever que rumo a civilização tomará, dizem futurólogos.

A chamada singularidade tecnológica é uma tese defendida por acadêmicos, mais notadamente Raymond Kurzweil, desde 2012 um dos diretores de engenharia do Google, empresa que está investindo agressivamente em inteligência artificial (leia mais na pág. F3).

Autor de "The Singularity Is Near" ("a singularidade está próxima", sem edição no Brasil), Kurzweil diz que poderíamos dominar a ciência a ponto de copiar o conteúdo de nosso cérebro (e com isso nossa personalidade) para implantá-lo em super-humanos –e viver para sempre.

Outro pregador da singularidade (Bill Gates definiu uma vez a ideia como "quase uma crença religiosa"), Vernor Vinge questiona se a existência de seres humanos faria sentido se todo ato, inclusive experiências sentimentais, pudesse ser melhor replicado por máquinas.

'NÃO TÃO RÁPIDO'

Paul Allen, que fundou com Gates a Microsoft, escreveu em um artigo na "MIT Technology Review" argumentando que, de fato, a evolução da parte física da computação (hardware) pode ter crescimento exponencial indefinido, mas que há gargalos no software.

"Não bastaria rodar programas de hoje mais rápido", diz. "Criar esse tipo de coisa requer um conhecimento científico prévio dos fundamentos da cognição humana, área cuja superfície apenas arranhamos."

Em entrevista por e-mail à Folha, o chefe do departamento de inteligência artificial da Universidade Stanford, Andrew Ng, também mostrou-se cético.

"Computadores podem entender o que veem, ouvem e leem hoje muito melhor comparado mesmo ao ano anterior, mas ainda estamos muito longe do nível de inteligência humana", diz.

"Acho que computadores capazes de fazer tudo que humanos fazem pode ser possível um dia, mas definitivamente não nos próximos dez anos, e muito possivelmente não durante nossas vidas."

Máquinas "espirituais", como define Kurzweil, são tema frequente da ficção, como no filme "Her" ("Ela", 2013), de Spike Jonze, no qual o protagonista se apaixona por uma assistente virtual que também é capaz de sentir.

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TECPÉDIA

SINGULARIDADE
Tese que prevê a criação de uma consciência artificia, com computadores múltiplas vezes mais capazes que o cérebro humano, em todas as faculdades. O domínio nos diversos campos da ciência, como nanotecnologia, robôs e neurociência será tamanho que "egos imortais" podem existir, preveem defensores.

REDE NEURAL
Computadores ligados de tal maneira que funcionam como um sistema nervoso de um animal. Técnica usada para reconhecimento de padrões e interpretação de conteúdo.

FUTUROLOGIA
Campo interdisciplinar que faz previsões, geralmente relacionadas à tecnologia. 
Arte/Folhapress



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