segunda-feira, 17 de março de 2014

Folha de S.Paulo: Instagram vira praça de comércio, mas sem ser invasivo como a publicidade


JENNA WORTHAM

O Instagram, aplicativo de compartilhamento de fotos controlado pelo Facebook, é meu lugar favorito para olhar as fotos de meus amigos. Gosto de vê-los comemorando aniversários, jantando e desfrutando de suas férias.

Outra coisa que aprendi a amar nesse site é muito menos conhecida: trata-se de um excelente lugar para fazer compras.

O Instagram não foi projetado para ser um site de comércio eletrônico, e esse é um de seus atrativos, ao meu ver.

Gigantes da internet como a Amazon contam com algoritmos delicadamente calibrados para me sugerir produtos e serviços antes mesmo que eu pense neles. Mas há algo de charmoso em olhar fotos selecionadas e editadas com cuidado, como as que alguns dos vendedores que usam o Instagram postam.

Para mim, o app é como a versão moderna de um velho mercado do Oriente Médio –mas um que visito usando meu celular quando tenho alguns minutos de folga.

Observo as fotos quando estou no elevador ou esperando na fila do mercado. Parte imensa do atrativo está em que os produtos oferecidos se misturam ao conteúdo regular "feed", em meio a fotos dos meus amigos.

Tropeçar em um achado inesperado, que eu escolhi seguir, como uma bela almofada estampada ou um par de botas de couro, em um app social como o Instagram, causa excitação pela descoberta, mais ou menos como aquela que você sentiria ao encontrar algo raro em uma feira.

Editoria de Arte/Folhapress 

É uma sensação que tenho frequentemente ao ver os posts de uma loja de produtos vintage chamada Fox & Fawn, que oferece fotos de itens como jaquetas, jeans desbotados e vestidos, acompanhadas por preço, disponibilidade de tamanhos e descrições bem sacadas.

Beverly Hames, uma das donas da Fox, diz que começou a postar imagens como experiência, 18 meses atrás. Agora, as vendas geradas por esses posts respondem por entre 20% e 40% do faturamento diário da loja.

Connie Wang, diretora de estilo do Refinery29, um site de moda, diz que a intimidade do Instagram o torna mais atraente como local de compras, a tal ponto que os usuários se dispõem a encarar as inconveniências da plataforma, que não foi projetada para permitir transações (não é possível fazer pagamentos ou clicar em um hiperlink).

"É muito mais pessoal", ela diz. "Não é como o Facebook ou o Twitter, onde tudo parece ser publicidade disfarçada de conteúdo. No Instagram, a sensação é de descoberta, porque você não está lá para comprar. Mas se alguma coisa atrai sua atenção e está disponível, aumenta a probabilidade de que você a compre."

Hames diz que sua loja já usou o Facebook como ferramenta de marketing, mas não quis pagar os custos associados a direcionar anúncios a potenciais compradores.

As duas lojas de Hames têm cerca de 5.000 seguidores, "o que pode não soar grande coisa para uma grande marca ou grande loja", diz, "mas é bastante para uma pequena butique".

Ela diz que se preocupa com a possibilidade de que o Instagram comece a dedicar atenção às suas práticas e que venha a criar restrições.

FATURAMENTO

O Instagram foi adquirido pelo Facebook por US$ 1 bilhão, em 2012. Os executivos dizem que não têm planos de deter o comércio eletrônico conduzido no app, desde que o vendedor não viole as normas de serviço da companhia, por exemplo a proibição à prática do spam.

Mas o Instagram vem enfrentando dificuldades para descobrir como ganhar dinheiro. Os esforços iniciais de publicidade não avançaram para além da fase de teste.

"Essa bolha vai estourar um dia", diz Hames. "Ou o número de empresas que vendem lá disparará, criando saturação, ou eles vão cobrar".

É assim que o mundo funciona. Mas alguns de nós sempre vão estar em busca de intimidade em suas compras –e, ao menos por enquanto, a abordagem casual que o Instagram torna possível é muitas vezes um presente.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Nenhum comentário:

Postar um comentário

deixe aqui seu comentário