“Eu adoraria morar no Brasil. De fato, eu já pedi asilo ao governo brasileiro”, disparou Edwared Snowden à repórter Sônia Bridi,da TV Globo, na primeira entrevista do ex-técnico da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, a um emissora brasileira.
“Se o Brasil me oferecer asilo, eu ficarei feliz em aceitar. Eu adoraria morar no Brasil. De fato, eu já pedi asilo ao governo brasileiro. Quando eu estava no aeroporto, mandei um pedido a vários países. O Brasil foi um deles. Foi um pedido formal”, reafirmou Snowden, desmentindo a versão oficial de Brasília, que sempre negou tal formalização.
Em 2 de julho de 2013, quando Snowden ainda estava preso no aeroporto de Moscou, o Itamaraty confirmou que o Brasil havia recebido, no dia anterior, por meio da embaixada do País em Moscou, pedido de asilo do ex-técnico da CIA Edward Snowden. O governo brasileiro decidiu que não responderia o pedido – o que não significava, na ocasião, que o pedido havia sido rejeitado. mas, em meados de dezembro do mesmo ano, o mesmo Itamaraty passou a adotar a versão de que Snowden nunca chegou a fazer um pedido oficial de asilo ao governo brasileiro.
“Isso para mim é novidade. Talvez seja algum procedimento que eles achem que não foi seguido”, afirma Snowden agora para Sônia Bridi.
O pedido de asilo foi o principal assunto da entrevista. O asilo temporário de Snowden na Rússia termina agora, no início de agosto. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, já avisou que vem assistir a partida final da Copa do Mundo, em julho. Estaria ele pensando em trazer o agente norte-americano na bagagem.
Debate aberto
Logo após a veiculação da entrevista, na noite deste domingo, 1/7, Sônia Bridi mediou um debate entre o embaixador Marcos Azambuja, o representante da Anistia Internacional Atila Roque, e o advogado Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, para discutir o pedido de asilo.
A posição de Marco Azambuja foi bem clara. “Não convém ao Brasil dar asilo ao Snowden”, afirmou ao embaixador. “Temos uma agenda de grande potência com o governo americano. Arrumar uma encrenca com os Estados Unidos, dessa magnitude, sem fim na linha di horizonte, não convém ao país”, afirmou Azambuja, alegando pensar assim por ter sido treinado para ser um agente dos interesses brasileiros.
Por mais que a situação possa ser tratada como de apelo humanitário, Azambuja argumenta que “o asilo a Snowden não é nossa briga, nossa causa”.
“Temos causas tão verdadeiras, tão imediatas, tão diretas, que não devemos nos meter naquilo que não é nossa causa. Não quero parecer insensível ao apelo, mas o Brasil tem pouco a ver com isso. Eu não quero ficar refém de causas que podem nos causar desconforto”.
Na opinião do embaixador, o Brasil deve é continuar atuando no âmbito multilateral, se posicionando contra os abusos dos programas de espionagem.
Atila Roque, por sua vez, defende a concessão do asilo para Snowden no país, mas acima de tudo, gostaria de ver os argumentos levantados pelo embaixador Marcos Azambuja usados oficialmente pelo governo brasileiro para negar o pedido de asilo. “O que o Brasil tem feito até agora é sair pela tangente. Efetivamente dizer que ele não fez o pedido de asilo não corresponde à realidade”, afirma o representante da Anistia Internacional.
“Seja no marco de uma ação multilateral do Brasil, seja no marco de uma ação bilateral, o Brasil tem que sair de uma posição defensiva, da desculpa que nem reconhece o pedido para, à luz dos interesses do país, discutir esse tema nos fóruns multilaterais, porque o que está em jogo aqui é como a liberdade de expressão e o controle do estado se regula na era da Internet, da comunicação digital. O Brasil precisa ter voz ativa sobre isso”, disse Atila Roque.
Ao falar sobre o Marco Civil da Internet, o próprio Snowden alertou que ter leis locais só não basta. Para fazê-las valer é preciso atuar nos fóruns internacionais e ter ferramental técnico, político e humano capaz de garantir o seu cumprimento.
“Esses é um dos temas mais importantes que a gente vai enfrentar daqui para frente. E a orientação do Brasil deve ser a de uma política externa baseada em princípios. Os Estados Unidos perderam a bandeira da liberdade na Internet. Do ponto de vista da política internacional este é um terreno a ser ocupado e o Brasil, junto com outros países, pode se tornar um protagonista nesse cenário”, disse Ronaldo Lemos.
“Essa é uma janela de oportunidade e o Brasil tem que aproveitar essa janela, mobilizar a sociedade brasileira, criar uma diplomacia de princípios nessa área e seguir com força total”, afirmou.
Na opinião de internautas que acompanharam o debate no site do Fantástico, ficou a impressão de que “a diplomacia quando ferida por uma invasão de privacidade em massa, deixa de existir. O que prevalece infelizmente é a economia através de uma “agenda” de relacionamento com os EUA”.
Será?
“Se pra ter relação com outro país é necessário perder o lado humanitário de uma nação, então não somos uma nação (país), somos apenas um lugar na América Latina que fala sobre direitos humanos mas que em nenhum momento vive o que diz”, opinou outro participante.
E você, o que pensa a respeito? O Brasil deve ou não conceder asilo a Snowden?
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