É possível prever a ocorrência de doenças a partir de um sistema de informação que demonstre em qual momento pode-se estar em uma situação de risco, ou quando uma doença que circula no ambiente silvestre pode romper a barreira biológica e acometer humanos.
Em março deste ano, o Centro de Informação em Saúde Silvestre – CISS, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), montou um sistema para sintetizar em um único local um conhecimento disperso que pode auxiliar na correlação entre a saúde silvestre e a humana e, consequentemente, na prevenção de doenças, segundo a coordenadora do projeto, Marcia Chame.
Com a simplificação dos ambientes, vetores e hospedeiros se aproximam das populações humanas em busca de alimento e abrigo ou deixam de ser controladas por seus predadores aumentando o risco de transmissão das zoonoses. Monitorar os agentes patogênicos que circulam na natureza ou nas bordas de ambientes rurais e urbanos, antes que cheguem as pessoas, é um desafio num país com as dimensões continentais do Brasil.
Além de reunir todas as informações já existentes na área científica sobre o assunto no Brasil, o CISS, com base nos fundamentos da ciência cidadã – tipo de ciência baseada na participação informada, consciente e voluntária, de milhares de cidadãos que geram e analisam grandes quantidades de dados, e partilham o seu conhecimento sobre a vida ao redor -, criou um app Android para incentivar a colaboração de observadores da fauna, pessoas e profissionais envolvidos com ações de manejo, saúde pública, captura de animais, além da população em geral, no mapeamento de ocorrências anormais que possam representar um desequilíbrio com consequências para a saúde das pessoas.
Um onça na garagem? Caramujos gigantes com frequência e quantidade fora do comum após as chuvas? Um lobo no parque?
Qualquer pessoa pode participar desse esforço de monitoramento – turistas, agricultores, guias de ecoturismo, observadores de aves, empreiteiros, técnicos e especialistas da saúde, meio ambiente e agropecuária.
O aplicativo Sistema de Informação em Saúde Silvestre – SISSGeo é uma ferramenta informatizada para o registro, em aparelhos mobile, de observações de animais no campo. E agora está disponível para download a partir da Google Play. Antes só era possível ter acesso a ele entrando no site do CISS, o que dificultava seu uso por um número maior de pessoas.
Segundo a doutora Márcia Chame, o APP ajudará as pessoas a sistematizarem as informações passadas para os cientistas. O usuário vai encontrar opção para dizer se o animal encontrado está magro demais, por exemplo, se tem uma hemorragia, se tem feridas, se o lobo ou a raposa estão babando, se foram encontrados próximos de uma área de desmatamento, ou de queimada, perto de rodovias ou de grandes obras. Entre outros aspectos, o CISS analisará os desequilíbrios que as atividades humanas exercem sobre os ecossistemas naturais.
A partir dos registros de animais observados e da informação de possíveis anormalidades (como feridas, comportamento estranho) e das características do ambiente onde foi feita a observação, o sistema gera modelos de alerta de ocorrências de agravos na fauna silvestre.
Quanto mais informações de qualidade, bem estruturadas, os pesquisadores tiverem, mais rápido o modelo matemático criado junto com o Laboratório Nacional de Computação Científica será capaz de apontar tendências, facilitando a atuação de todos os envolvidos (veterinários, Ibama, saúde pública), economizando esforços e dinheiro para resolver as questões ambientais ou de saúde pública ou minimizar seus impactos.
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