Especialistas em hacktivismo criticam ações do AnonymousBR
Em debate na Campus Party, os ataques do grupo hacker foram considerados sem sentido; de acordo com especialistas, parecem mais "farra do que protesto"08 de Fevereiro de 2012 | 19:54h |
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Uma série de ataques do grupo AnonymousBR, que se considera uma versão nacional do Anonymous, derrubou sites de bancos na semana passada como uma forma de protestar contra a corrupção no Brasil. O grupo usou "computadores zumbis" para tirar os sites do ar com ataques de negação de serviço.
Para muitos, isso poderia ser considerada uma forma de "hacktivismo", união de hackers com ativistas. Porém, em um debate na Campus Party, alguns especialistas em ciberativismo afirmaram que as ações feitas pelos brasileiros são bastante diferentes dos Anonymous internacionais.
"Essas pessoas que se denominam Anonymous no Brasil não refletem uma posição ideológica, uma luta específica. O que a gente vê parece mais uma farra do que um protesto", afirmou Anchises de Paula, um dos fundadores do Garoa Hacker Clube, primeiro HackerSpace brasileiro. "Eles atacam sites por atacar, páginas que não têm nada a ver com nada para protestar contra alguma coisa, como a falta de ventilador na Campus Party", disse, brincando com a frequente reclamação dos campuseiros em relação ao forte calor que faz dentro do Anhembi.
Segundo Anchises, o brasileiro em geral sabe usar bem a internet e ativistas conseguem usar a capacidade dos brasileiros para divulgar ideias na rede. O que falta é o outro lado do hacktvismo - os hackers - conseguirem se unir aos ativistas para lutar por uma causa. "Pelo menos uma parcela da comunidade hacker não está sabendo fazer isso", disse.
Já o sociólogo Sérgio Amadeu acredita que as ações feitas pelos hackers brasileiros não significam muita coisa. Como exemplo, ele citou os protestos feitos pelo Anonymous após o fechamento do MegaUpload pelo governo dos Estados Unidos. O AnonymousBR atacou sites governistas brasileiros em suas ações. "Eles derrubaram o site do governo do Distrito Federal, blogueiros congressistas. Não tem nada a ver com a história. Atacaram por atacar. Quero ver derrubar o site do FBI, quero ver participar junto do protesto", criticou.
Ciberativistas brasileiros
Outra questão abordada no debate foi a participação de brasileiros em manifestações feitas pela internet. Os participantes mostraram opiniões divergentes sobre o tema: alguns defendem a mobilização dos brasileiros na rede, enquanto outros acham que não sabemos protestar.
Alberto Azevedo, do Movimento Software Livre, acredita que os brasileiros têm uma ideia errada do que é o protesto na web. "Trocar a foto do Facebook não vai combater a violência aos animais", afirmou. Anchises mostrou ter uma visão parecida. "O hacktivismo está engatinhando no Brasil. Uma parcela está criando mobilizações defendendo causas políticas, e outras pessoas não têm a mesma capacidade de mobilizar", afirmou.
Já Marcelo Branco, do site Softwarelivre.org, lembrou que muitas das manifestações que ocorreram pelo mundo, e inclusive no Brasil, começaram de protestos na web. "Ciberativismo ser considerado um militante de sofá é uma visão defensiva demais. Nos últimos 12 anos, quase todas as manifestações de rua foram feitas por pessoas conectadas à rede que usaram a internet como forma de mobilização social", afirmou. "A internet é um novo espaço de disputa e envolve tanto progressistas quanto conservadores", finalizou.
Segundo Amadeu, os brasileiros já mostraram que conseguem protestar pela web. "Quando colocamos protestos contra SOPA e PIPA nos trending topics do Twitter antes dos americanos, mostramos que sabemos nos manifestar", afirmou. Para ele, o que falta é uma mobilização maior em algumas questões.
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