terça-feira, 30 de setembro de 2014

G1: Rede social Ello quer ser alternativa 'simples' ao Facebook


Sem anúncios, site pretende se financiar com modelo 'freemium'.
Criador critica redes sociais por serem 'controladas por anunciantes'.
Rede social Ello promete não exibir anúncios e
tem ganhado simpatia de usuários ao redor do
mundo 

Ainda em fase beta, ou "de testes", a rede social Ello vem atraindo internautas descontentes com o Facebook. Chamadasoft por alguns de "rede antissocial" por ter sido criada para mudar o atual modelo das redes sociais, a "Ello" é mais fácil de ser entendida como rede antipublicitária e pró-privacidade.

Por ainda estar em fase de testes, não é possível acessar o site da rede, "ello.co", para criar um cadastro. A Ello adota o mesmo modelo empregado pelo Orkut, permitindo que apenas usuários convidados montem um perfil. É possível ir ao site e solicitar um convite, mas não se sabe quando esse pedido pode ser atendido. Segundo uma entrevista concedida pelo fundador do site Paul Budnitz ao site "BetaBeat", a rede social chegou a receber 30 mil pedidos de inscrição por hora na semana passada e a rede tem dobrado de tamanho a cada três ou quatro dias.

De acordo com a Alexa, que monitora o tráfego de websites, a Ello ainda tem poucos visitantes diários. A rede nem mesmo aparece entre os 100 mil sites mais populares do mundo, enquanto o Facebook ocupa a segunda posição. De acordo com a Alexa, 36% dos visitantes da Ello estão na Alemanha, um país conhecido pela preocupação com a privacidade.

Parte da popularidade da Ello resulta de algumas regras do Facebook consideradas restritivas. A rede de Mark Zuckerberg exige que todos utilizem nomes verdadeiros. Nas últimas duas semanas, muitos drag queens têm sido expulsos do Facebook por conta dessa regra. Como a exigência não existe na Ello, esse grupo foi para lá, criando a enchente de pedidos de cadastro.

A Ello também não pretende realizar bloqueio de conteúdo pornográfico, como o Facebook faz.

Quando comparada a qualquer outra rede social popular, a Ello tem diferenças fundamentais. O site da rede traz um "manifesto" crítico do modelo de outras redes sociais, especialmente o Facebook. "Cada postagem que você compartilha, cada amigo que faz, cada link que segue é rastreado, registrado e convertido em dados. Anunciantes compram esses dados para que eles possam lhe mostrar mais anúncios. Você é o produto que é comprado e vendido. Nós acreditamos que há um caminho melhor", diz o texto, que termina afirmando: "você não é um produto".

Outra página que descreve a rede diz que ela quer ser "simples e bonita".

A Ello recebeu US$ 435 mil do fundo de investimento de capital de risco FreshTracks Capital. Para pagar essa conta e dar lucro para seus investidores, a Budnitz prometeu ao FreshTracks Capital que a Ello adotaria um modelo "freemium", em que o uso dos recursos básicos do site é gratuito, mas algumas funções dependem de pagamento para serem usadas. Esse modelo é muito usado por jogos on-line, inclusive games dentro do Facebook.

Ninguém sabe ainda quais serão essas funções "extras". Por enquanto, a rede social continua se preocupando com recursos básicos, como a capacidade de bloquear outros usuários. O serviço ainda está em construção e precisa criar ou otimizar muitas das funções básicas de uma rede social.

A jornalista Jessi Hempel da revista "Wired" já disse que a rede Ello "não vai funcionar" porque ela "não se importa com dinheiro". Hempel também afirmou que o manifesto da Ello está equivocado, porque o Facebook e outras redes sociais não podem atender exclusivamente aos anunciantes: o que eles fazem é tentar encontrar o equilíbrio.

"Se o Facebook ouvir demais os anunciantes, ele arrisca alienar os usuários, que levarão suas fotos das férias e atualizações de status para outro lugar. Mas se o Facebook abandonar seus interesses comerciais, ele rapidamente ficaria sem o dinheiro que precisa para fornecer serviços rápidos e seguros em diferentes plataformas – exatamente aquilo que os usuários veem como básico", escreveu a jornalista.

Hempel diz que é mais provável que a Ello siga os passos da rede social Diaspora. O projeto Diaspora levantou US$ 200 mil pelo site de financiamento coletivo "Kickstarter" e ficou conhecido como "anti-Facebook" por adotar os mesmos valores da Ello, especialmente no campo da privacidade.

Diferente da Ello, porém, a Diaspora é baseada em um software que cria uma rede descentralizada, reduzindo os custos de manutenção. O projeto, criado em 2010, foi abandonado pelos próprios fundadores em agosto de 2012. O software é hoje mantido por uma comunidade de voluntários e, até o momento, não conseguiu mudar o cenário das redes sociais.

"O manifesto da Ello cria altas expectativas sobre como seus fundadores pretendem abordar a inerente tensão entre a captação de recursos e a construção de algo socialmente significativo: eles querem pensar apenas nos usuários. Mas isso é irreal e fará com que o projeto fracasse", conclui a jornalista da "Wired".

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