O governo federal e as empresas privadas têm de correr contra o tempo para deixar pronta a infraestrutura de telecomunicações para a Copa do Mundo de 2014.
A pernambucana Amanda Lopes assistiu ao vivo à estreia do Brasil na Copa do Mundo, no estádio de Ellis Park, em Johannesburgo, na África do Sul, em 15 de junho de 2010. Naquele jogo suado e difícil, em que a seleção de Dunga ganhou por 2 a 1 da Coreia do Norte, as preocupações da brasileira estavam muito além do gramado. Como funcionária da sueca Ericsson, responsável pelo funcionamento da rede de uma das operadoras de telefonia do evento, a MTN, ela não podia pisar na bola. “Tivemos de lidar com problemas inéditos”, diz Amanda. Para se ter ideia do desafio, somente na abertura da Copa e no jogo inaugural entre África do Sul e México, cerca de 90% dos torcedores presentes enviaram fotos, vídeos e mensagens por seus celulares. Os números mostram a complexidade da operação: só a quantidade de torpedos processados pela MTN durante aqueles 30 dias chegou a 590 milhões.
Sem "caladão": Tecnologia 4G nas cidades-sede da Copa do Mundo de 2014
pode ser a solução para evitar o colapso das comunicações durante os jogos
Em função de sua experiência em grandes acontecimentos esportivos, Amanda foi recrutada por sua empresa para trabalhar na Copa do Mundo em 2014 no Brasil. “O cenário aqui é bem diferente do da África do Sul”, afirma. “No País, a área de cobertura é muito maior e a infraestrutura é proporcionalmente menor.” Para quem tem bons ouvidos, a avaliação de Amanda soa como um alerta. “A infraestrutura de telecomunicação tornou-se tão importante nos dias de hoje quanto a de engenharia civil”, diz Rafael Fanchini, gerente-executivo de consultoria da Ernst & Young Terco, responsável pelo estudo “Brasil Sustentável: Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo 2014”, realizado em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). De acordo com Fanchini, é provável que haja uma demanda explosiva na telefonia celular. “O tráfego poderá aumentar até 60 vezes, em relação aos padrões atuais.”
A solução para um possível gargalo no tráfego de dados e de voz – o chamado “caladão” – durante o evento pode estar na tecnologia 4G (quarta geração). Ela deve substituir as redes 3G atuais, com algumas vantagens. A principal delas: a velocidade de transmissão de dados, que pode chegar a 100 Mbps, dez vezes mais do que a 3G. Para comparar essa rapidez: com essa taxa seria possível ver até 20 vídeos simultaneamente. O problema é que até agora muito pouco foi feito para que o Brasil tenha redes 4G em operação. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai leiloar as faixas de frequência para essa tecnologia em abril de 2012.
“Uma das exigências será que as operadoras que ganharem instalem redes 4G nas cidades-sedes da Copa e também até naquelas que contarão com os jogos da Copa das Confederações, que acontece em 2013”, afirma João Rezende, presidente da Anatel. Algumas empresas de telefonia, no entanto, não estão de acordo com as regras do leilão, como a faixa de frequência que será leiloada. O desacordo pode levar a contestações e atrasar o já apertado cronograma da agência reguladora de telecomunicações. “Há risco de tudo sair muito em cima do evento, sem a possibilidade de se fazer os testes necessários”, diz Erasmo Rojas, diretor da 4G Americas, associação focada na tecnologia de quarta geração da telefonia celular.
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