Entre 2010 e 2014, a movimentação gerada deve saltar de US$ 20 milhões para US$ 192 milhões, de acordo com a consultoria IDC.
Círculo virtuoso. Esta é a principal consequência proporcionada pelo modelo de software como serviço (SaaS) na economia nacional, de acordo com consultores do mercado de TI. Segundo eles, ao ter oportunidade de adquirir tecnologia mais barata, as empresas compram mais, ganham competitividade e podem crescer, impactando no desenvolvimento do País. “Pode parecer uma análise extremamente otimista, mas é absolutamente lógica”, diz Anderson Figueiredo, gerente de Pesquisa e Consultoria da IDC.
Ele diz que o SaaS, que permite a aquisição de soluções e serviços por meio da nuvem, de maneira simplificada e pagamento sob demanda, transforma custos fixos em variáveis, abrindo portas para companhias, em especial pequenas e médias, que não vislumbravam desfrutar de tecnologias caras como ERP e CRM. Na cadeia de negócios, de acordo com Bruno Arrial dos Anjos, analista sênior de Mercado da Frost & Sullivan, os fornecedores ampliam suas vendas e, além disso, abrem oportunidades para a comunidade de desenvolvedores (ISVs), que podem realizar parcerias para oferecer suas soluções na cloud.
Souvenir Zalla, CEO do Edge Group no Brasil, estima que “vamos sentir verdadeiramente essa evolução da cadeia econômica e de valor na metade da década”. Para ele, irão surgir outros impactos não somente na indústria de software, que poderá sofrer redesenho, como também o tradicional modelo de licenças, que deverá ser repensado.
O consultor da Frost cita um estudo da consultoria, realizado em 2010 com mais de cem empresas de grande porte, em que 66% delas afirmam que irão continuar investindo ou ingressar no conceito de cloud computing, sendo 86% em software como serviço. “A camada de aplicativos continuará sendo a mais usada em 2011, com 88% de aceitação”, diz, acrescentando que os aplicativos mais usados na nuvem são e-mail, CRM e ERP, nesta ordem.
SaaS permeia e atrai todos os portes de empresas. “As grandes vão reduzir seus orçamentos de TI, ao cortar custos com infraestrutura e amenizar o impacto da aquisição de licenças em alguns casos. E as micro, pequenas e médias, o contrário. Elas vão passar a investir em TI ou ampliar seus orçamentos, pois correrão menos riscos com custos variáveis”, destaca Arrial.
No estudo das 350 Maiores empresas de TI e Telecom, realizado pela Deloitte em parceria com a COMPUTERWORLD, a categoria SaaS aparece como principal produto de cloud computing comercializado, com 40%, à frente de infraestrutura como serviço (IaaS), com 25%, e de plataforma como serviço (PaaS), 17%.
No Brasil, estimativas da IDC apontam para movimentação de SaaS, saltando de 20 milhões de dólares para 192 milhões de dólares entre 2010 e 2014. Já na América Latina, serão mais de 400 milhões de dólares em 2012, segundo o instituto de pesquisas Gartner. Com isso, a modalidade tem sacudido o mercado, estimulando o fortalecimento da estratégia de muitas empresas. Uma delas é a Microsoft, que trabalha com SaaS há mais de uma década, com serviços de e-mail. Ela aqueceu sua oferta no modelo nos últimos dois anos, de acordo com Eduardo Campos, gerente-geral de Office da Microsoft Brasil.
“Foi quando lançamos o mote Estamos todos na nuvem. Assim, assumimos nosso compromisso de ofertas de serviços em cloud. De lá pra cá, ampliamos de 40% o nosso desenvolvimento de aplicações no conceito para 90%. Nossos desenvolvedores não só criam como adaptam os produtos existentes”, diz Campos. Recentemente, prossegue o executivo, a Microsoft entrou na segunda onda desses serviços com o lançamento no Brasil do Office 365 em cloud, que integra serviços de produtividade para empresas de todos os portes. “É a forma mais fácil de migrar a infraestrutura de produtividade para a nuvem.”
A Totvs também entrou nessa arena. Anunciou em novembro a loja virtual Totvs Store, que irá comercializar, via web, componentes de software, soluções e serviços, na modalidade SaaS. De acordo com Weber Canova, vice-presidente de Tecnologia e Inovação da Totvs, “a intenção é oferecer à comunidade de desenvolvedores a oportunidade de empreender ao criarem produtos baseados na tecnologia Totvs e os disponibilizar ao mercado por meio da Totvs Store”. Inicialmente, em 2011, a loja virtual vai oferecer gratuitamente componentes de software para desenvolvedores. No próximo ano, os próprios desenvolvedores já poderão publicar seus componentes, juntamente com os da Totvs, para comercializá-los na nuvem. Em 2013, incluirá soluções de gestão voltadas para micro e pequenas empresas.
Quem está pronta para entrar nessa disputa entre o final deste ano e início de 2012 é a Globalweb Corp, joint-venture entre o Grupo TBA e a companhia de software Benner, com um portal no modelo SaaS, para comercializar soluções, desde a mais simples as mais robustas, para atender especialmente às pequenas e médias empresas. Para o primeiro ano fiscal, a meta é atingir 240 milhões de reais, com projeção de alcançar 500 milhões de reais até 2014. “Entendemos que a cloud deve ter um escopo definido, alinhado ao orçamento de cada cliente. Portanto, ela irá se posicionar com divisões e tamanhos diferentes”, diz Cristina Boner, presidente do grupo TBA e do Conselho Administrativo da empresa.
Globalweb e Totvs estão cadastrando ISVs para oferecer oportunidade de parceria para desenvolvimento de aplicações em suas respectivas plataformas. A intenção das empresas é ampliar o leque de opções de aplicativos setoriais em suas nuvens e dessa forma atender a um público eclético. Ambas acreditam que com o crescimento dos negócios apoiados em SaaS, todos ganham, fornecedores, empresas usuárias de variados portes, sem distinção, e a economia nacional.
“Não acredito que exista alguém que esteja perdendo com a cloud. Pode estar deixando de ganhar. É questão de afinar a estratégia”, finaliza Figueiredo da IDC.