publicado em 22/12/2011 às 05h30:
Cliente pode abrir 1,5 página por dia; governo não comenta
João Varella, do R7
Com anúncio de mais uma centena de novas cidades atendidas neste mês, os interessados em entrar no PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) devem ter atenção às letrinhas miúdas do contrato que falam sobre o limite de download.
Depois desse limite, a operadora é livre para cortar a velocidade da conexão para níveis abaixo dos tempos da conexão discada.
Toda navegação que um computador fez pela internet usa download. A página inicial do R7, por exemplo, pesa cerca de 1 MB quando aberta pela primeira vez em um browser. A partir da segunda tentativa, o computador apenas baixa os arquivos que foram alterados no site – a home do R7 passa a pesar cerca de 150 KB (1 MB equivale a 1024 KB) nessa condição.
Isso sem contar em arquivos de música ou vídeo que podem ser baixados. Um usuário do PNBL não conseguiria nem baixar o conteúdo de um CD-ROM, que tem 640 MB, sem ser penalizado.
Esse teto do PNBL espantou o vendedor de imóveis Carlos Alberto de Carvalho Dutra, de São Luís (MA). Ele iria assinar o serviço de uma operadora que ofereceria 500 MB (ainda menos que um CD-ROM). Ele se deu conta que seria impossível de assistir vídeos ou usar redes sociais com esse limite.
- É só para ler e-mails mesmo.
Inconformado com o limite de download, Dutra foi até o site Reclame Aqui, em que outras 60 reclamações sobre o PNBL foram registradas.
O fórum do grupo Transparência Hacker, usado para debater assuntos governamentais e internet, também tem tópicos sobre o assunto, a maioria com críticas ao PNBL. O usuário Dony chegou a qualificar a mensalidade de R$ 35 como "piada sem graça".
– Uma palhaçada isso, isso é uma proposta indecente e imoral, só aqui mesmo, as pessoas não deveriam aceitar isso, mais uma vez a incompetência reina e as empresas internacionais fazem seus lobbies e mandam e desmandam nesse pais.
A ativista pela democratização da internet Tatiane Pires diz que o PNBL, do jeito que está, não proporciona a experiência de inclusão digital para as classes mais pobres, objetivo do plano. Esses usuários não poderiam baixar um sistema operacional gratuito baseado em Linux, diz Tatiane.
– Não dá pra baixar o Ubuntu, um sistema operacional livre, por exemplo. O Chrome [navegador mais usado no Brasil] se atualiza automaticamente e o arquivo executável (.exe) tem aproximadamente 52MB.
Outro exemplo de tamanho é o programa para fazer a declaração de Imposto de Renda, que neste ano foi de 18,5 MB (6,2% de tudo o que o usuário pode usar no mês).
Um clique e meio por dia
A consultoria WebSiteOptimization analisou os mil sites mais populares do mundo para concluir que as páginas pesam em média 697 KB. Fazendo as contas, os usuários do PNBL com limite de 300 MB poderiam clicar em 45 páginas por mês ou 1,5 por dia. Segundo a consultoria, o peso médio das páginas foi multiplicado por sete em desde 2003.
Isso sem contar nos vídeos. Sites como o R7 e Videolog usam recursos de vídeos que consomem cerca de 3 MB por minuto (o número varia de acordo com as configurações do usuário e a qualidade do arquivo).
Além do problema no download, um estudo divulgado em junho indicou que a velocidade do PNBL é ultrapassada. A associação de consumidores Proteste pede a nulidade dos contratos do PNBL.
O Ministério das Comunicações não retornou os pedidos de entrevista da reportagem.