segunda-feira, 19 de novembro de 2012

CORREIO: Dificuldade no acesso à internet é entrave para agronegócio


Expectativa dos produtores é que a tecnologia 4G reverta essa situação ao expandir a área 
Ana Lívia Lopes*
* Especial para o CORREIO


Em 2011, o PIB do agronegócio brasileiro alcançou R$ 942 bilhões, de acordo com estimativas do Centro de Pesquisas Avançadas em Economia Aplicada (Cepea). Apesar do ótimo resultado do setor, que responde por mais de 20% do PIB do país, e de recordes superados a cada nova safra, o agronegócio continua refém de um entrave tecnológico: a falta de acesso à internet.

A expectativa dos produtores é que a chegada da tecnologia de telefonia celular de 4ª geração (4G) reverta essa situação ao expandir a área de cobertura e a velocidade na transmissão de dados. No leilão, as operadoras foram obrigadas a ofertar o serviço de banda larga móvel também para a zona rural. 

Na Bahia, os produtores reclamam que a falta do serviço acaba interferindo na sua atividade de diferentes formas. Os problemas vão desde a atualização de informações cruciais para tomada de decisão no seu negócio – como dados sobre clima, acompanhamento de operações em bolsas de mercadorias passando por contatos com clientes e fornecedores e até na emissão da nota fiscal eletrônica. Todos esses transtornos acabam tendo impacto na competitividade do setor.

Segundo IBGE, 801.198 domicílios baianos possuíam acesso à internet quando foi realizado o Censo 2010, o que equivalia a cerca de 20% dos 4.045.597 existentes no estado. Já o Ministério das Comunicações estima que na zona rural, só 10% tenham, de fato, acesso à rede de computadores. O problema se acentua ainda mais quando o assunto é internet de banda larga que permite maior fluxo de dados e com mais rapidez.

“O produtor tem prejuízos com a falta de conexão pelo Brasil afora”, afirma o superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Daniel Carrara, argumentando que a situação é incompatível com a evolução da agropecuária brasileira, baseada no uso da tecnologia de ponta.

Para o superintendente do Senar Bahia, Geraldo Machado, o acesso à informação digital tem avançado no Brasil, mas ainda está longe do aceitável.

“Em um cenário tão competitivo e globalizado, como o atual, é fundamental que produtores, grandes e pequenos, gestores e até mesmo praticantes da agricultura familiar tenham acesso a conhecimentos, informações de mercado, descobertas tecnológicas, educação profissional e trocas de experiências. Todas as inovações acontecem em uma velocidade tão rápida que somente a internet é capaz de acompanhar e disseminar”.

O quadro parece ainda mais contrastante nas áreas onde o agronegócio opera com maquinário moderno e tecnologia de ponta, a exemplo do oeste baiano, região que na última safra colheu 7,3 milhões de toneladas produtos agrícolas, entre grãos, frutas, café e outras culturas.

Segundo o presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes do da Bahia (Aiba), Walter Horita, muitas localidades situadas a cerca de 20 km da sede dos municípios de Luís Eduardo Magalhães e Roda Velha não contam com a cobertura de telefonia de celular.

Transmissão 

O problema acontece mesmo nas áreas urbanas. “Utilizo duas operadoras e, há alguns meses, houve períodos em que não conseguia fazer ligações”, conta o presidente da Aiba, entidade que representa produtores do oeste do estado. Para muitos empresários da região, a solução é investir do próprio bolso na colocação de uma torre de repetição ou captando o sinal de estados próximos como o Tocantins.

Walter Horita acredita que, se a região contasse com cobertura 3G de qualidade, já seria um grande avanço. “Estamos longe de ter um serviço com qualidade, situação que é muito diferente de países como a Coreia que visitei recentemente. O Brasil que é a chamada ‘bola da vez’ da economia deveria estar em um estágio mais avançado”, afirma o presidente da Aiba, que é otimista com relação à implantação da tecnologia da 4G para garantir um serviço mais eficaz e confiável.

Indústria 

O gerente geral do Centro de Indústrias do Estado da Bahia (Cieb), Evandro Mazo, ressalta que a falta de cobertura não atinge somente as propriedades rurais como os distritos industriais localizados em áreas próximas às zonas urbanas. “Além de grande parte do estado não ter cobertura de internet de banda larga, outro fator crítico é a baixa velocidade e a instabilidade registrada nas áreas onde o serviço existe. Sabemos que as operadoras e poder público têm feito investimentos para aumentar a qualidade do serviço, mas esse esforço não consegue acompanhar o crescimento da demanda”, avalia.

Para o gerente do Cieb, o problema não é somente implantar a 4G, mas garantir que os municípios fora da região metropolitana tenham acesso a um serviço de qualidade, viável com tecnologia já disponível.

“Hoje a instabilidade do serviço oferecido é muito grande. A internet cai no meio de uma operação e é necessário fazer o serviço novamente, gerando muito retrabalho e influenciando na competitividade das empresas”, diz.

Para o diretor do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, Artur Coimbra, o Plano Nacional de Banda Larga apresentou avanços no campo regulatório, com a liberação de novas outorgas para TV a cabo, infraestrutura importante para impulsionar a banda larga. Outra medida vai interessar quem sofre com a instabilidade dos serviços de internet: o governo aprovou exigências de qualidade para banda larga fixa e móvel, que entram em vigor este ano.

“No campo de incentivos fiscais, o Estado isentou de tributos federais os equipamentos e serviços de banda larga prestados por meio da faixa de 450 MHz e satélites de pequeno porte e reduziu as taxas incidentes sobre as comunicações máquina a máquina, que incentivam a digitalização das atividades econômicas”, diz Coimbra. Nos leilões de 4G, entre as obrigações, está a cobertura com o sinal de banda larga móvel a um raio de 30 km, a partir dos limites da sede de cada município.

Bahia ainda não aderiu a convênio de incentivo à banda larga

Além da 4G, o diretor do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, Artur Coimbra, Coimbra explica que outras medidas podem ser tomadas para acelerar a internet no campo.

Uma delas é a adesão dos Estados ao convênio ICMS nº 38/2009, do Conselho Nacional de Política Fazenda (Confaz). Para o diretor, a adesão a esse convênio será determinante para o sucesso da internet rural, na medida em que ele isenta de ICMS a banda larga que custe até R$ 30 mensais.

“Dezesseis estados já aderiram a ele. A Bahia é um dos Estados que ainda não aderiu, portanto a população rural não terá esse benefício, o que pode prejudicar a expansão do serviço”, ressalta.

Artur Coimbra, concorda que houve um descompasso entre o crescimento do agronegócio brasileiro e a criação de política pública de banda larga para o campo. “Desde a privatização do setor de telecomunicações, o crescimento do agronegócio não foi acompanhado de uma política pública direcionada à área rural. Apesar disso, muitos provedores de acesso à Internet, na maior parte das vezes de porte regional e utilizando tecnologias sem fio, ocuparam parcialmente esse mercado, oferecendo conectividade para muitos domicílios rurais”, afirma.

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