quarta-feira, 11 de abril de 2012

wireless mundi: Corrida para tirar o atraso



O estado ainda traça sua política de inclusão, enquanto os municípios avançam nas iniciativas de cidades digitais.

Um dos estados da Federação mais avançados nos indicadores socioeconômicos, com índice de alfabetização de 98% por grupo de mil habitantes e colocado entre aqueles com melhor IDH do Brasil, o Rio Grande do Sul surpreende quando o assunto é inclusão digital. Em agosto, oito meses depois de ter tomado posse, o governo de Tarso Genro ainda estava discutindo sua política para criar o Plano Gaúcho de Banda Larga, que pretende universalizar o serviço nos 496 municípios e massificar os serviços eletrônicos de governo e de inclusão digital. Com a ausência de uma política estadual na área, muitos municípios gaúchos decidiram sair na frente e vem avançando em seus planos de construir infovias, criar cidades digitais e serviços com o uso das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), para uma melhor gestão dos serviços públicos e inovação no atendimento ao cidadão, por meio do governo eletrônico.

Nos últimos anos, as poucas iniciativas de inclusão digital no governo estadual estavam centralizadas na Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (SCIT), que criou o programa Cidade Digital, em parceria com a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica). Há cerca de dois anos, foram escolhidas três cidades para o projeto piloto – Piratini, Candiota e Camaquã –, mas o programa foi totalmente implementado apenas nas duas primeiras.

Começou por Candiota, teve interrupções e começou a ganhar corpo só em 2010, com a conexão de escolas públicas, que aderiram ao programa UCA (Um Computador por Aluno). “Atualmente, tanto em Candiota como em Piratini, 100% das escolas estaduais e municipais estão conectadas à internet, assim como os postos de saúde e a área de segurança”, conta Guilherme Mertens, coordenador do projeto Cidades Digitais na SCIT. A transmissão local é por rádio e o acesso é feito pelas fibras da CEEE. Segundo Mertens, Camaquã demorou para assinar o convênio e estava, em agosto, ainda na fase de instalação dos equipamentos.

Na atual gestão, a SCIT quer contribuir com a inclusão digital também por meio da inovação e do desenvolvimento, com a ampliação dos parques tecnológicos. “Temos três parques (Tecnosinos, Tecnopuc e Valetec) instalados e projetos para a implantação de mais 11, em parceria com universidades e empresas”, informa o secretário Cleber Prodanov. Sua adjunta, Ghissia Hauser, explica que o objetivo é fomentar setores estratégicos e o desenvolvimento regional, além do apoio à inovação e à inclusão digital. “Queremos promover o desenvolvimento regional por meio do desenvolvimento tecnológico”, diz Ghissia, citando a indústria criativa e dando como exemplo o projeto HamburgTec (de games), ligado à Valetec.

Com tão poucas iniciativas, o estado busca dar um salto para ter políticas públicas em linha com a era atual, da Sociedade da Informação. A primeira decisão tomada foi de que as políticas do Rio Grande do Sul na área serão alinhadas com as do governo federal. A intenção não é reinventar a roda, mas aderir a projetos como o Territórios da Cidadania, do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), ou ao UCA, do MEC. “Vamos alinhar as políticas de inclusão digital com as do governo federal”, informa Gérson Barrey, diretor de Inclusão Digital na recém criada Secretaria de Comunicação e Inclusão Digital do Estado. “E priorizar a inclusão pelas populações que mais necessitam”, acrescenta. Uma das iniciativas é a instalação de 24 telecentros na zona rural, com terminais e equipamentos multimídia, em parceria com o MDA. Além do acesso à informática e à internet, o programa do MDA tem parceria com a Emater, que promove cursos de capacitação. A conexão será do programa Gesac, do Ministério das Comunicações.

Outro projeto em andamento na diretoria de Inclusão Digital prevê a criação de um centro de reciclagem de computadores, para reaproveitamento de 6 mil máquinas, que serão descartadas nos próximos três anos pelo governo, na renovação do parque – além de doações do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. O centro terá também a função de capacitar jovens que poderão, a partir do curso, se integrar a outro projeto em formatação, o SOS Telecentros. “O objetivo é também formar jovens para trabalhar na manutenção de telecentros”, explica Barrey.

Projeto compartilhado

Na área de infraestrutura, a decisão caminha para a construção de uma infovia ligando todo o estado, a partir da rede de fibras ópticas já existente da CEEE, da rede metropolitana da Procergs (Companhia de Processamento de Dados do Estado) e dos dutos da Sulgás (Companhia de Gás do Estado), que pode ceder espaço para a passagem de fibras. “Vamos fazer a camada de infraestrutura com a sinergia de todas as empresas, e universalizar a banda larga no estado em sinergia com o PNBL”, informa Carlson Janes Aquistapasse, presidente da Procergs, referindo-se ao Plano Nacional de Banda Larga e à integração da futura infovia estadual à rede da Telebras no estado.

A rede metropolitana da Procergs tem apenas 38 km de fibras e é complementada por uma rede WiMAX, que conecta 143 pontos na capital. O projeto prevê a ampliação da rede óptica a partir dos dutos da Sulgás, com 500 km construídos e em franca expansão, devendo chegar ao final do ano com mil km. Além de expansão nas cidades, a Sulgás também constrói tubulação ligando municípios, caso, por exemplo, de Novo Hamburgo e Campo Bom, duas das cidades riograndenses com infovia própria.

A espinha dorsal do projeto, no entanto, está na rede da companhia de transmissão e distribuição de energia estadual, que tem 1.200 km de fibras ópticas instaladas e um projeto para construir mais mil km de fibras para fechar o anel. Esse backbone seria integrado à rede da Telebras, no PNBL, cobrindo todo o estado. Para isso, a CEEE precisa criar uma outra empresa, a CEEE Telecom. “Já concluímos o plano de negócios e estamos agora estudando a implantação da empresa e vendo, no BNDES, a possibilidade de financiamento”, informa o presidente da CEEE, Sérgio Dias, para quem a unidade de telecom é uma empresa que se viabiliza. “A CEEE Telecom pode ser um vetor muito importante para concretizar o Plano Gaúcho de Banda Larga”, comenta.

O plano é semelhante ao traçado pela Telebras no PNBL. No caso do Rio Grande do Sul, o anel da CEEE funcionará como o backbone da rede estadual, com a fibra chegando até as principais estações (a companhia tem conexões entre as estações, tanto da transmissão, quanto da distribuição). A partir delas, a conexão será por rádios nos 496 municípios, onde o serviço passaria a ser prestado por um provedor local.

Dias estima em R$ 300 milhões os investimentos para fechar o anel e comprar os equipamentos necessários para colocar em funcionamento a CEEE Telecom. Parte dos recursos pode ser aportada em parceria com a Telebras, que já firmou acordo com a CEEE para compartilhamento de redes. Técnicos das duas empresas já fizeram o levantamento da estrutura existente e do que é necessário para as conexões. O primeiro ponto deverá cobrir a parte Sul do estado e chegar a Rio Grande para atender ao Polo Naval, pioridade de governo. O segundo ponto de interesse da Telebras no estado é Uruguaiana, município que faz fronteira fluvial com Argentina e Uruguai. “Em função da conexão com esses países, o Rio Grande do Sul passou a ser um ator importante no processo com a Telebras”, observa Dias.

Serviços na rede

Outro atraso no Rio Grande do Sul é a ausência da contratação de uma rede multisserviços em um único edital, inciativa que tem sido adotada por outros estados, desde a privatização do Sistema Telebrás, com economia de custos e mais qualidade nos serviços. Apenas como referência, estados como Pernambuco, São Paulo e Minas Gerais já estão numa segunda fase de contratação dessas redes, uma vez que os contratos com as concessionárias, em geral com duração de cinco anos, já findaram.

Hoje, o backbone da Rede RS (a rede privativa) é contratado a partir de diferentes editais. O maior fornecedor é a Oi, responsável por 35 pontos de presença, que chegam em 370 municípios, cobrindo 79% do estado. Conecta, no total, 4.500 redes locais, basicamente órgãos estaduais. O estado contrata, de forma descentralizada, também os serviços de telefonia móvel e fixa. Os gastos com esses serviços, mais dados, estão estimados em R$ 57 milhões este ano. Esses valores não incluem as despesas com telecom do Banrisul (o banco do estado), da CEEE e da Corsan (a companhia de saneamento).

“Com uma rede própria, queremos trabalhar conceitos como o uso integrado e compartilhado da infraestrutura, centralizar voz em pontos específicos para termos uma saída para a rede pública e adotar VoIP na intragoverno”, antecipa Aquistapasse. Os planos incluem o conceito de comunicação unificada e a economia estimada, só com serviços de voz, é de 40%. A previsão era de fechar o projeto neste mês de outubro. “Com a infraestrutura, vamos dar suporte para os serviços públicos nas áreas de saúde, educação, segurança pública e fazenda”, antecipa Aquistapasse. O suporte às políticas de inclusão digital viria num segundo momento. Numa terceira etapa, o plano prevê o atendimento a outras esferas de governo, como prefeituras, justiça e governo federal; numa quarta etapa, as cidades digitais e, por último, projetos especiais como Copa do Mundo.

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