As empresas de internet, como o Facebook e o Google, gostam de cultivar a imagem de que são diferentes das grandes corporações da velha economia, alternativas à forma “antiga” de fazer negócios e política utilizada por companhias de setores como saúde, defesa, construção civil e comunicação.
Por José Antonio Lima, na Carta Capital
A partir de setembro, vai ficar um pouco mais difícil para as empresas pontocom manterem esta imagem. Em setembro, começa a funcionar a The Internet Association, por meio do qual a indústria da internet poderá fazer avançar seus interesses nos Estados Unidos da forma mais antiga, e polêmica, conhecida pelos norte-americanos: fazendo lobby com os congressistas.
A lista de participantes da Internet Association ainda não foi divulgada na íntegra. De acordo com reportagens da agência Reuters e do jornal The Washington Post, o Google, o Facebook e as empresas de comércio eletrônico Amazon e eBay são algumas das principais forças por trás do grupo. Oficialmente, o objetivo da associação não é diferente de outros grupos lobistas. A intenção é “unificar a voz da economia da internet” e “avançar soluções de políticas públicas para fortalecer e proteger uma internet livre, inovadora e aberta”. O presidente da associação é uma pessoa com grande conhecimento sobre a política de Washington – Michael Beckerman, ex-chefe de equipe do Comitê de Comércio e Energia do Congresso americano, responsável por supervisionar as políticas de telecomunicações e internet dos EUA.
Ainda não se sabe com certeza, mas é possível que Beckerman tenha ajuda de outras figuras influentes na capital norte-americana que já fazem lobby para as empresas de internet. Segundo o Washington Post, o Facebook trabalha com Louisa Terrell, ex-integrante da equipe do vice-presidente Joe Biden, e Joel Kaplan, vice-chefe de gabinete do ex-presidente George W. Bush.
A formação da Internet Association é a oficialização do lobby da internet. Como também fazem as empresas da velha economia, as de internet já gastam pequenas fortunas para, como elas próprias dizem, “educar” os políticos norte-americanos. Segundo o site Open Secrets, o Google gastou quase 10 milhões de dólares com lobby em 2011 e, até 24 de julho deste ano, mais 5,5 milhões de dólares. O Facebook gastou menos em 2012, 650 mil dólares, mas deve aplicar mais 1 milhão de dólares até o fim do ano. São valores altos, mas ainda ínfimos perto do que gastam outros setores da economia americana com lobby, uma indústria responsável por movimentar mais de três bilhões de dólares por ano.
Nos Estados Unidos, o lobby não é ilegal. A prática é protegida por três dispositivos previstos na Constituição e na Carta de Direitos e regulamentada por diversas leis. O que incomoda a população e gera suspeitas é a fragilidade dessa legislação, a qual deixa muito espaço para negociações e relacionamentos obscuros entre os políticos e os lobistas. Ao entrar oficialmente no “esquema”, Google, Facebook e outras empresas do ramo se igualam à velha indústria.
Em declaração à imprensa, Beckerman, o presidente do grupo lobista, reconhece a mudança de posição do setor. “A internet não é mais apenas o Vale do Silício, a internet avançou para ‘Rua Principal’”, disse ele. Segundo Beckerman, a associação vai trabalhar para proteger o modelo “descentralizado e aberto” que possibilitou “crescimento e inovação sem precedentes”. Sem dúvida, é uma causa nobre a ser defendida em meio às diversas tentativas de tolher a liberdade na internet, algumas inclusive originadas no próprio Congresso dos EUA. O que resta saber é se o lobby das gigantes da internet vai atuar para proteger a liberdade de todo o setor ou apenas das grandes corporações, fechando o mercado e dificultando a inovação por parte de concorrentes menores.
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