terça-feira, 6 de novembro de 2012

G1: Entidades culturais pedem revisão de projeto de Marco Civil da internet


Seminário no Rio discutiu projeto de lei em tramitação na Câmara.
Segundo entidades, projeto não respeita direitos autorais.

Representantes de classes artísticas e entidades culturais decidiram, nesta segunda-feira (5), encaminhar um documento ao deputado Alessandro Molon (PT-RJ), relator do projeto de lei 2126/2011, conhecido como Marco Civil da internet, pedindo alterações no texto. A decisão foi tomada durante debate na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio.

O projeto de lei estabelece direitos e responsabilidades de usuários, provedores e poder público no uso da internet. Foi aprovado no Senado em 2011 e, desde então, está em discussão em comissões na Câmara. É possível que nesta semana, Molon leve o projeto para discussão em plenário.

Segundo os participantes do seminário na ABL, o documento não respeita os direitos autorais. A principal crítica é à mudança no conceito de infração de direito autoral. Atualmente, há um entendimento de que o provedor deve retirar um conteúdo do ar quando receber a primeira notificação, sem a necessidade de que um processo tramite na Justiça. No entanto, caso o projeto do Marco Civil da internet seja aprovado e vire lei, os provedores de conteúdo só serão responsabilizados pela não retirada de um conteúdo se a vítima tiver obtido uma ordem judicial para a remoção do mesmo. Esse processo, segundo as classes culturais, pode levar meses.

Para a escritora e presidente da academia, Ana Maria Machado, é fundamental que a questão seja incluída nas premissas do projeto e que o atual mecanismo de notificação para a retirada de conteúdos indevidos do ar seja mantido. "A posição da ABL é o princípio de que no Brasil não tem escravidão e que todo o trabalho deve ser remunerado, inclusive o trabalho intelectual. O trabalho de quem produz os conteúdos culturais que estão na internet tem que ser pago", afirmou a presidente da academia.

Mesmo com o acesso gratuito, as empresas que hospedam conteúdos lucram com a publicidade e, segundo a presidente da ABL, os autores, trabalhadores intelectuais que criam o produto, precisam ter sua remuneração assegurada. "A legislação deve proteger a parte fraca e deve insistir em todos os seus níveis pela caracterização das responsabilidades dos poderosos hospedeiros", diz a presidente da ABL.

O advogado da União Brasileira de Compositores, Sydney Limeira Sanches, que redigirá o documento que será enviado ao deputado relator do projeto, afirma que o documento será simples e objetivo, restringindo-se às reclamações das entidades e autores presentes ao debate desta segunda-feira.

"Queremos que o regime encontrado hoje pela indústria criativa, para a preservação dos direitos autorais, seja mantido. A notificação e a consequente retirada do conteúdo vêm funcionando. Da forma como está escrito o artigo 15 do projeto de lei, esse regime cordato, que a indústria conseguiu construir com o mercado da internet, se perde totalmente", destacou o advogado, ressaltando que as consequências e a onerosidade das demandas judiciais vão inviabilizar a administração dos direitos intelectuais.

Segundo a diretora executiva da União Brasileira de Compositores, Marisa Gandelman, quando a lei foi criada optou-se por não tratar de direitos específicos, como o direito do consumidor, direito de imagem e direitos autorias e, em função disso, tirou a responsabilidade do provedor de conteúdo.

"Só será responsabilizado o provedor de conteúdo na hipótese de descumprimento de ordem judicial. Só que para existir uma ordem judicial tem que haver um processo. É necessário ir à Justiça pedir ajuda para resguardar seu direito. Hoje isso acontece de forma natural, amena e eficiente, que é o entendimento entre as partes. Essa sistemática de notificação funciona em diversas partes do mundo. O grande problema e que o tempo de um processo judicial não combina com a velocidade da internet", garante.

Também participaram do debate o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), Paulo Rosa, Roberto Feith, diretor da editora Objetiva, o compositor Fernando Brant, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o poeta Antônio Cícero e o escritor Alberto Mussa.

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