sexta-feira, 30 de agosto de 2013

2i2p: Participação e Internet

Participação e Internet:


A questão sobre o que constitui a participação política tem recebido considerável atenção de cientistas políticos. O debate tem-se centrado no que seja um ato válido de participação e como atos de participação podem ser classificados.

A Internet renovou o debate em ambas as frentes, porque a maioria das definições de participação amplamente aceitas foram formuladas na era pré-Internet. Por outro lado, uma corrente mais recente de estudos em e-participação parte do pressuposto de que as atividades on-line constituem um novo tipo de engajamento participativo.

Enquanto trabalhos empíricos iniciais se concentraram principalmente em comportamentos relacionados com as eleições de modo homogeneizado, trabalhos posteriores ampliaram o objeto de estudo para mostrar que ele é multidimensional, com atividades agrupadas de modos distintos, mas relacionados.

Saber se tipos menos ativos e instrumentais de engajamento político qualificam-se como formas de participação tornou-se crescente foco de debate na literatura. Alguns estudiosos rejeitaram explicitamente o que eles vêm como uma definição excessivamente reducionista da literatura clássica e defenderam a inclusão de uma ampla gama de “tipos de envolvimento passivos” na definição de participação, tais como participar de atividades cerimoniais ou de apoio ou prestar atenção ao que está acontecendo no governo ou na política.

Mais recentemente, Hirzalla e Van Zoonen (2011),[1] identificaram uma série de modos distintos de participação definidos por um mix de itens off-line e on-line. O trabalho sinalizou a possibilidade de que o ambiente online pode estar dando origem a um novo tipo de participação, sem uma participação off-line homóloga. Os autores identificaram um fator de “compartilhamento” definido principalmente por meio de atividades on-line (envio de e-mail, assinatura de e-petição e engajamento online, bem como discussão offline). Este achado tem ligações com os de Rojas e Puig-i-Abril (2009)[2] que identificam um modo de participação “e-expressivo” na Colômbia. Esta é uma forma de participação política que ocorre em blogs e redes sociais e gira em torno da “expressão pública de orientações políticas”.

Raquel Gibson e Marta Cantijoch (2013) analisam o conceito e mensuração de e-participação. Argumentam que um maior rigor teórico precisa ser introduzido no estudo desse fenômeno. Concluem que a e-participação pode ser diferenciada em grupos distintos de atividades inter-relacionadas, como é o caso da participação off-line.

A análise mostrou que os tipos de engajamento político off-line reemergem online. Integração parece estar ocorrendo entre os tipos de participação mais ativos e orientados, como entrar em contato com um político ou assinar uma petição: os indivíduos, basicamente, usam todas as ferramentas disponíveis para realizar a ação escolhida. No entanto, entre as formas de engajamento que são normalmente consideradas como mais passivas – consumo de notícias e ações expressivas –, há evidências de que o meio influi. Isso pode se dever ao fato de esses comportamentos terem uma qualidade mais ativa, coletiva e em rede no ambiente online. Postar uma opinião em um blog ou site de rede social, indiscutivelmente, permite fazer uma declaração pública mais imediata e potencialmente influente do que usar um distintivo na lapela.

Enquanto os resultados obtidos [pelas autoras] parecem confirmar que os esquemas de classificação off-line continuarão a funcionar na era da Internet, há sinais de que alguma revisão e possível expansão das categorias correntes podem ser necessárias, como vemos no caso da migração de tipos mais passivos de engajamento político para modos mais ativas de participação.


Fonte: GIBSON, Rachel; CANTIJOCH, Marta. Conceptualizing and Measuring Participation in the Age of the Internet: Is Online Political Engagement Really Different to Offline? The Journal of Politics, Southern Political Science Association, 2013. p. 1-16.

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