quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

IDG Now!: Caminho rumo ao “hospital digital” está pavimentado, mas poucos fazem uso



Sempre ouvi dizer que a Tecnologia da Informação (TI) no setor de saúde era uma área de grande complexidade e algumas incertezas. Mas sempre achei que o problema estivesse mais em cima, na interoperabilidade dos sistemas médicos e administrativos. Engano meu. A primeira edição da pesquisa TIC Saúde, do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br), órgão do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostra que o problema é bem mais embaixo. A Infraestrutura de TIC está presente na maioria das instituições de saúde do país, mas o uso estratégico e clínico está muito aquém do desejado.

O objetivo do estudo, que entrevistou 1.685 gestores de estabelecimentos de saúde públicos e privados em todo o território nacional, além de ouvir 4.180 médicos e enfermeiros vinculados a estes estabelecimentos, foi compreender o estágio de adoção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nos estabelecimentos de saúde do Brasil e a apropriação dessas tecnologias pelos profissionais do setor. Os resultados mostram que, apesar de 94% dos estabelecimentos de saúde pesquisados terem computadores e 91% acesso à Internet, 63% dos médicos terem acesso a computadores no trabalho e 60% à Internet, 72% dos enfermeiros terem acesso ao computador e à Internet nos locais de trabalho e 99% dos médicos e 97% dos enfermeiros terem acesso à Internet em casa, o uso dessas ferramentas no local de trabalho ainda é baixo.

Embora 60% dos médicos com acesso a computador no local de trabalho acessem diagnósticos, problemas ou condições de saúde do paciente, a maioria se queixa de falta de treinamento para uso de ferramentas como prontuários eletrônicos e de de teleconferência entre os profissionais da saúde. Só 30% dos estabelecimentos públicos com Internet possuem disponíveis os serviços de educação a distancia em saúde e 24% dos públicos possuem disponíveis atividades de pesquisa a distancia; 24% dos estabelecimentos públicos com Internet participam de alguma rede de telessaúde, enquanto 8% dos privados com Internet declararam integrar esse tipo de rede.

A maioria dos hospitais com acesso a alguma rede de telessaúde integram a rede de hospitais universitários servidos pela Rede Universitária de Telemedicina (Rute), coordenada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), referência na área. Em 2012, a Rute recebeu a qualificação de melhor prática em telemedicina pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL). E este mês promoveu a primeira transmissão de quatro cirurgias em 4k (resolução quatro vezes superior à full HD), em tempo real e de forma simultânea, diretamente do Brasil para os Estados Unidos. Foram transmitidas cirurgias de próstata, fígado, buco-maxilo e coração para 150 pessoas em San Diego e 60 no Brasil. A plateia brasileira contou com funcionários da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e da Universidade de Brasília (UnB), além de médicos e pesquisadores. Na Califórnia, a demonstração fazia parte do CineGrid, evento que conta com a participação de profissionais de cinema e tecnologia da informação vindos de todas as partes do mundo, além de médicos e pesquisadores da Universidade de San Diego.

Entre as principais barreiras para a implementação e o uso das TIC nos estabelecimentos estão a falta de prioridade por parte das políticas públicas e a insuficiência de treinamento.

-> 83% dos médicos e 72% dos enfermeiros consideram a falta de prioridade das políticas públicas como barreira que dificulta ou dificulta muito a implantação das TIC;

-> 75% dos médicos e 71% dos enfermeiros consideram a falta de treinamento como fator que dificulta ou dificulta muito a implantação e o uso de sistemas;

-> e a falta de prioridade das políticas internas do estabelecimento também aparece como barreira relevante para médicos (70%) e enfermeiros (66%).

Um bom exemplo dessas questões é o que vem acontecendo com o programa Mais Médicos. Segundolevantamento feito pelo Estadão, sem contar com Wi-Fi nos postos de saúde onde trabalham, profissionais do programa Mais Médicos não conseguem usar parte dos recursos oferecidos no tablet dado pelo Ministério da Saúde para auxiliá-los no atendimento aos pacientes. Entre esses recursos estão o tradutor português-espanhol, as consultas ao Código Internacional de Doenças (CID-10) e o aplicativo Telessaúde, no qual os profissionais podem enviar suas dúvidas para os supervisores.

A equipe do Estadão percorreu 48 cidades do Estado de São Paulo que receberam profissionais. Só 8 prefeituras do interior têm internet WiFi em todos os seus postos de saúde. Outras seis têm a tecnologia em algumas unidades. A capital é um dos municípios que não têm internet Wi-Fi em nenhum de seus postos de saúde. Os números ilustram bem os resultados encontrados pela pesquisa TIC Saúde.

Os estabelecimentos de saúde foram divididos em quatro tipos, com base em uma definição do IBGE: estabelecimentos sem internação, estabelecimentos com internação e com até 50 leitos, estabelecimentos com internação e com mais de 50 leitos e estabelecimentos de serviço de apoio à diagnose e terapia (SADT). O menor acesso à infraestrutura está nos estabelecimentos sem internação, onde podem ser encaixados os postos de saúde: 20% deles não têm qualquer conectividade.


De acordo com Fábio Senne, coordenador de pesquisas do CETIC.br, a situação é pior entre os estabelecimentos sem internação do interior. Nas capitais, apenas 3% não têm qualquer acesso à Internet.

Segundo o Ministério da Saúde, os tablets do Mais Médico têm tecnologia 3G e cabe ao médico contratar um pacote de dados móveis para ativar o serviço. Seria tão caro assim o Ministério arcar com os custos da conexão 3G? A logística para isso seria complicada, SindiTelebrasil? E o Fust, não poderia ser usado para este fim?

Talvez, se os tablets tivessem os programas para administração e gestão do DataSUS, o governo federal não pensasse duas vezes. Essa foi a área que mais avançou. Os maiores desafios para os próximos anos, segundo Senne, é avançar no uso da tecnologia disponível para melhorar a qualidade do atendimento e do diagnóstico.

Apenas 26% dos estabelecimentos oferece algum tipo de serviço via Internet para os pacientes. Quase sempre, o acesso a resultado de exames. Só 17% oferecem o agendamento de exames e 13% o agendamento de consultas.

As iniciativas de uso de prontuários eletrônicos ainda é baixa (tabela abaixo).


Entre os dados sobre os pacientes disponíveis eletronicamente, os mais presentes são os de caráter administrativo, como dados cadastrais e referentes à admissão, transferência e alta de pacientes. Informações clínicas estão menos presentes em meios eletrônicos.

Enquanto 83% dos estabelecimentos que utilizaram a Internet nos últimos doze meses afirmaram ter disponíveis os dados cadastrais do paciente, apenas 21% possuem informações em meios eletrônicos sobre vacinas tomadas pelo paciente e 25% possuem imagens de exames radiológicos.

O levantamento do CETIC.br é o primeiro no Brasil na área e adota o modelo de pesquisa proposto pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Conta com o apoio institucional do Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Informática do SUS (Datasus), da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), acadêmicos e de especialistas no setor. “São mais de 80 indicadores. Uma pesquisa muito rica”, afirma Senne. A intenção é manter atualizações anuais, a exemplo de outras pesquisas do CETIC.br, como a TIC Educação. Como os indicadores seguem um padrão internacional, no futuro a ideia é compará-los com os de outros países, para saber como anda a saúde das TICs na área de Saúde no Brasil.

Fonte: "Caminho rumo ao “hospital digital” está pavimentado, mas poucos fazem uso." IDG Now!: Caminho rumo ao “hospital digital” está pavimentado, mas poucos fazem uso. http://idgnow.uol.com.br/blog/circuito/2013/12/18/caminho-rumo-ao-%E2%80%9Chospital-digital%E2%80%9D-esta-pavimentado-mas-poucos-fazem-uso/ (accessed December 18, 2013).
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