sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

G1: Bitcoin pode minar poder do banco central dos EUA, afirma estudo


Fed poderia perder controle sobre suas políticas monetárias.
Nobel de Economia diz que bitcoin é 'moeda perversa'.

Café em Vancouver, no Canadá, que aceita bitcoins (Foto: Andy Clark/Reuters)

Um estudo feito pelo serviço de pesquisa do Congresso dos Estados Unidos sugere que o crescimento da circulação de bitcoins pode afetar a efetividade da política monetária do Fed, o Banco Central norte-americano. Publicado em dezembro, o documento ecoa uma preocupação explícita sobre os riscos à economia oficial relacionados à criptomoeda não só dentro do governo dos EUA, mas manifestado também de forma mais incisiva pela Índia e China.

O departamento que elaborou o estudo abastece os congressistas norte-americanos com análises sobre questões de interesse público.

No Brasil, segundo o Banco Central informou aoG1, por e-mail, a lei que regula os pagamentos "estabelece que sejam regulados apenas os arranjos de pagamentos que, segundo avaliação técnica, possam ter importância sistêmica". "O BC analisou o emprego de bitcoins e, por ora, considera que ele não é de relevância para o sistema financeiro brasileiro".

O estudo norte-americano, antes de entrar nos possíveis riscos ao sistema monetário americano, explica o funcionamento e a escala de utilização do bitcoin. Como a função do Fed é manter estáveis os preços e o mercado financeiro e atingir o máximo nível de empregabilidade, a popularização da criptomoeda é o risco.

"Pela escala corrente do uso de bitcoin, é provavelmente muito pequena para afetar significativamente as habilidades do Fed de conduzir a política monetária e atingir esses três objetivos. Entretanto, se a escala de utilização crescesse substancialmente, isso poderia ser razão para preocupação", informa o estudo, assinado por Craig Elwell, especialista em política macroeconômica, e pelos advogados legislativos Maureen Murphy e Michael Seitzinger.
Para Paul Krugman, Nobel de economia, bitcoin é
'sonho impossível' e uma moeda 'perversa'.
(Foto: Darlan Alvarenga/G1)

"Conceitualmente, o bitcoin poderia ter um impacto na condução da política monetária à medida que isso afeta substancialmente a quantidade de dinheiro ou influencia a velocidade (taxa de circulação) de dinheiro através da economia ao reduzir a demanda por dólares".

Nos Estados Unidos, o uso é crescente. A empresa norte-americana que realiza conversões instantâneas de bitcoin para dólares possui 20 mil cadastrados. O time de basquete Sacramento Kings anunciou que aceitará bitcoins na compra de ingressos. A loja do comércio eletrônico Overstock vendeu US$ 126 mil em produtos no primeiro dia em que passou a aceitar a criptomoeda, em 10 de janeiro.

O estudo considera que, se os bitcoins continuarem a serem usados como ocorre hoje (trocados por dólares e depois convertidos novamente para a moeda), "o efeito no suprimento de dinheiro seria pequeno".

No entanto, se o uso da criptomoeda avançar, fazendo o interesse por dólares diminuir, a necessidade de poupar cairá e a velocidade de circulação tende a aumentar. Isso drenaria a quantidade de dinheiro, tanto aquela em circulação quanto as reservas dos bancos mantidas no Fed. "Nesse caso, para o Fed manter o mesmo grau de acomodação monetária, seria necessária empreender um aperto compensatório na política monetária. No mínimo, um substancial uso do bitcoin poderia fazer a mensuração de velocidade mais incerta, e o julgamento da postura apropriada para a política monetária mais incerta".

No ano passado, a cotação da moeda atingiu o pico de US$ 1,2 mil graças a iniciativa do próprio Congresso dos EUA de realizar audiências públicas com defensores e detratores do Bitcoin. Anteriormente, Paul Krugman, prêmio Nobel de economia e ex-presidente do Fed, já havia se manifestara contra a moeda, chamando-a de "sonho impossível" e, mais recentemente, de "perversa".

Milton Friedman, outro economista ganhador do Nobel, já havia previsto em 1999 que uma moeda digital iria colocar em xeque os poderes do Estado sobre a economia.

China e Índia não pagaram para ver. Ao invés de estudos, os países asiáticos atuaram para dificultar as transações em seu território.

Em 5 de dezembro, o ministério da Indústria e Tecnologia da Informação, a Comissão Regulatória Bancária, a Comissão Regulatória de Títulos e a Comissão Regulatória de Seguros da China declararam que o bitcoin não era uma moeda, mas um bem mobiliário, por não ser emitida por nenhuma autoridade monetária.

Fizeram isso para "proteger os interesses de propriedade do público, a posição do renminbi (moeda chinesa), tomar precauções contra o risco de lavagem de dinheiro e manter a estabilidade financeira". Treze dias depois, a maior casa de câmbio chinesa parou de intermediar as ações, o que derrubou a cotação.

Já na Índia, dois dias após o Reserve Bank, o banco central indiano, ter publicado aviso de que o bitcoin e outras moedas digitais possuíam riscos, a casa de câmbio local, BuySellBitco.in, interrompeu suas transações. Seu administrador chegou a ser preso.

Fonte: Simões Gomes, Helton . "Bitcoin pode minar poder do banco central dos EUA, afirma estudo." Tecnologia e Games. N.p., n.d. Web. 14 Feb. 2014. <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/02/bitcoin-pode-minar-poder-do-banco-central-dos-eua-afirma-estudo.html>.

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