ALEXANDRE ARAGÃO
À frente do escritório do Twitter em Washington (EUA), Adam Sharp chefia uma equipe de 13 pessoas que tem como objetivo principal fazer com que políticos e ONGs aprendam a usar a ferramenta de maneira mais eficiente. Desde que assumiu o cargo, em novembro de 2010, ele visitou 11 países a fim de cumprir a mesma meta –nesta semana, veio ao Brasil.
Adam Sharp, executivo responsável pelo relacionamento do Twitter com o governo dos EUA |
Folha - Como candidatos que concorrem a cargos minoritários, que não são tão conhecidos quanto candidatos à Presidência, podem construir público no Twitter?
Adam Sharp - Em primeiro lugar, eu não daria tanta importância apenas à quantidade de seguidores, porque o candidato pode estar se relacionando com as pessoas certas. Frequentemente falamos sobre o Twitter como uma retorno à "política do varejo". A qualquer país que vou, percebo que a melhor maneira de uma figura política para ganhar um voto é a mesma em todos os lugares: é olhar no olho, cumprimentar e pedir o voto. Mesmo para cargos minoritários, são necessárias pessoas demais para que você se eleja. Por isso que nos últimos 100 anos os candidatos começaram a falar mais na televisão, no rádio e nos jornais. Os políticos se tornaram muito bons em passar suas mensagens, mas perderam a interação com os eleitores. É nisso que eu acredito que o Twitter traz de volta a noção de "política de varejo", mas em escala.
O sr. acredita que o Twitter pode ser melhor usado por políticos em países em que há divisão por distritos, como no Reino Unido, em que há uma ligação territorial bem definida entre representados e representantes?
Eu não diria que um arranjo é melhor que o outro, são apenas diferentes e requerem estratégias diferentes. Quando você possui um arranjo em que o representante é responsável por uma área definida, como um prefeito, então você tem uma comunidade constituída com quem ele quer se conectar. Isso ajuda a perceber de que problemas estão falando e qual em qual momento querem compartilhar. Há políticos nos EUA que dizem, por exemplo, que não respondem a tuítes de pessoas que não são de seus Estados.
Há outra estratégia, entretanto, quando o representante não é amarrado a um território, como alguém que representa todo o país mas não é, necessariamente, o presidente da República. Nesse caso, se torna um pouco mais desafiador porque você não tem uma comunidade geograficamente definida, mas, no lugar, tem uma comunidade construída ao redor de ideias.
É o caso, por exemplo, de ministros de Estado?
Exatamente. Eles são ativos em um tema em particular e estão construindo uma comunidade ao redor de um tópico ou área de interesse. O Twitter tem um uso mais poderoso nesse caso, porque quando há uma área delimitada, o candidato sabe quem es´ta tentando atingir. Provavelmente, o candidato já tem maneiras de atingir essas pessoas. Poderia demorar algum tempo, mas se o candidato precisasse colocar um panfleto na porta de cada pessoa na cidade, seria possível. Mas, se o candidato está tentando estabelecer uma conversa com todos que estão interessados em educação, em todo o país, é muito mais difícil de definir.
De volta à questão principal, eu não acho que uma candidatura estar ligada a uma área territorial ou não faz com que ela seja melhor, pior, mais fácil ou mais difícil. Mas, cada uma dessas candidaturas tem seus desafios e a campanha tende a fazer usos diferentes do Twitter.
No ano passado, Katie Harbath, diretora de políticas públicas do Facebook, veio ao Brasil para falar com congressistas e especulou-se que a visita fazia parte de uma estratégia de lobby a favor de alguns pontos do Marco Civil da Internet. O sr. acredita que o Twitter escolheu um momento mais propício para a sua visita, após a aprovação do Marco Civil e antes das eleições?
Como mencionei, eu não sou lobista do Twitter. O propósito da viagem é ajudar candidatos a fazer um uso inteligente da plataforma. Agora, com o ano da eleição, as coisas começam a esquentar, é um bom momento para ter a conversa. Por exemplo: no ano passado, estive pela primeira vez na Alemanha e na Austrália e as visitas foram entre cinco e seis meses antes das eleições. O mesmo ocorreu na minha primeira viagem ao Japão. Acredito que essa janela, de cinco ou seis meses antes das eleições, sempre é um ponto em que há excitação o suficiente tanto entre candidatos como na mídia para começar a pensar nessas questões. É por isso que estou aqui agora.
A foto de um político mais retuitada de todos os tempos é uma em que aparecem Barack Obama e sua esposa, Michelle...
Sim, e era o tuíte mais retuitado de todos os tempos até o Oscar deste ano [risos]. Nós temos uma pequena rivalidade entre nossas equipes. A minha teve o tuíte mais retuitado por um ano e meio, agora quem detém o título é o pessoal responsável por televisão. Mas nós vamos nos vingar [risos].
A campanha em 2016 vem aí...
Pois é [risos].
Mas, voltando à foto de Obama. Ela foi tuitada por Laura Olin, uma cientista política que fazia parte da campanha de Obama. Como as campanhas deveriam balancear o que os próprios candidatos escrevem e o que os membros da campanha escrevem?
O mais importante em uma conta de Twitter relacionada a um político é autenticidade. Nós fizemos pesquisas e descobrimos que uma das principais formas de prever se alguém vai retuitar um tuíte político é quando pensam que o próprio candidato escreveu.
Um bom exemplo é o do senador americano Chuck Grassley. Primeiro, vou contar um pouco sobre Grassley. Ele tem 80 e poucos anos e é um republicano conservador de Iowa. Um dia, ele tuitou: "Fred e eu atropelamos um cervo na rodovia 136. Assumimos que o cervo morreu". [Risos.] Todos têm a mesma reação. Foi um sucesso, o "Huffington Post" fez uma reportagem sobre isso, foi usado na CNN. Tenho um amigo que, por um mês, assinou todos os e-mails com "assumimos que o cervo morreu". Mas, apenas ao tuitar essa experiência cotidiana, dirigindo de volta da fazenda, ele falou sobre algo que era um problema local. E as pessoas começaram a responder a ele dizendo que a população de veados havia aumentado desde que a temporada de caça fora diminuída. E dizendo que a rodovia era pouco iluminada.
Então o senador começou a responder a essas pessoas, pelo Twitter, e então fez projetos de lei para aumentar a temporada de caça e para que a iluminação da rodovia fosse melhorada. O que é incrível é que seus tuítes seguintes não eram relacionados a esse assunto, nem eram engraçados e nem fizeram tanto sucesso. Mesmo assim, ao dialogar com a comunidade, os tuítes novos estavam tendo tantas respostas quanto o tuíte original. Às vezes ele escreve errado, ou tuíta piadas, mas as pessoas sabem que é ele mesmo. E então as pessoas prestam atenção, aquele minuto adicional.
Mas quando a vida real se impõe, e às vezes o candidato não pode tuitar ele mesmo. Diferentes campanhas e candidatos encontram o melhor equilíbrio para isso. Mas acho que a resposta é sempre encontrar esse tom de autenticidade. Naquele tuíte do Obama, por exemplo, provavelmente não há nada mais autêntico do que a emoção genuína daquela foto. O fato de ter sido postada por um membro da campanha não era importante. Outro ponto importante era que a campanha foi bastante transparente sobre o que era escrito pelo presidente e o que era escrito por seus assessores. Então, nunca havia a sensação de que os seguidores estavam sendo enganados.
O pai do sr., Roger Sharp, foi um importante jornalista político de televisão entre os anos 1950 e 80. O sr. acredita que, naquela época, era mais fácil para um candidato emplacar seu discurso utilizando apenas a televisão?
Acho que quando olhamos para o período entre os anos 1960 e 80 foi provavelmente o auge do mecanismo de "broadcast only", em que os candidatos privilegiavam rádio e televisão. Na virada do século [19 para o 20], ainda havia espaços em que as pessoas podiam interagir. Um presidente dos EUA -acho que foi William Henry Harrison [presidente dos EUA em 1841]- que tocou toda a sua campanha sem nunca sair de casa. Ele sentou na varanda e disse: "Qualquer um que quiser falar comigo, pode vir até aqui". [Risos.] Isso se provou não ser viável por muito mais tempo. Nos anos 1970 e 80 passamos pelo pico da televisão ditando as campanhas, com entrevistas no rádio etc. Mas, com esses mecanismos, os candidatos perdem muito do feedback dos eleitores. Então, era mais fácil distribuir a mensagem, mas era mais difícil saber o que estavam achando dela. Candidatar-se ainda é mais fácil quando há um diálogo com os eleitores.
Na edição mais recente da revista "Politico" há uma enquete entre repórteres que cobrem a Casa Branca. Um dos entrevistados, Mark Smith, da Associated Press, respondeu que a melhor forma de conseguir informação da Casa Branca é "tuitar algo com o qual eles não concordam". O sr. acredita que políticos tendem a ser mais sinceros no Twitter?
Vou usar um exemplo da comédia e então retorno à política. Quando o apresentador Conan O'Brien foi indicado para o Tonight Show, ele ficou poucos meses, a audiência era ruim e logo voltaram para o Jay Leno. Depois disso, o contrato dele o proibia de ter um programa de televisão, atuar em filmes, ter um canal no YouTube e de escrever um livro, mas não o proibia de tuitar. Ele entrou no Twitter e, meses depois, disse que o Twitter tinha o transformado num comediante melhor. Porque com a restrição de tamanho, ele tinha que escrever e reescrever uma piada até ficar perfeito.
De volta à política. Durante um debate, ou em um discurso, é necessário tirar todo o excesso de fala apenas para chegar à essência da mensagem política. O Twitter força as pessoas a serem diretas e, assim, terem mais clareza de discurso. Ari Fleischer, que foi secretário de comunicação durante o primeiro mandato de George W. Bush, diz que a melhor maneira de escrever um discurso é tuitar as melhores frases e ver como as pessoas reagem. Elas retuítam? Porque se não funciona no Twitter, não vai funcionar no discurso. Mas se é uma frase que tem muita interação no Twitter, você coloca no discurso.
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