terça-feira, 22 de julho de 2014

Folha de S.Paulo:Empregados são vigiados digitalmente


STEVE LOHR


Ferramentas tecnológicas avançadas estão começando a viabilizar a avaliação e monitoramento de funcionários em patamares sem precedentes, o que abre a possibilidade de mudar fundamentalmente o modo de trabalhar e suscita preocupações com a privacidade diante da vigilância indiscriminada.
Empresas descobriram que os trabalhadores são mais produtivos quando há mais interação social. Por isso, o call center de um banco introduziu uma pausa compartilhada de 15 minutos para o café, e uma empresa farmacêutica substituiu cafeteiras usadas por alguns funcionários de marketing por uma cafeteria maior. O resultado? Aumento nas vendas e menos rotatividade de empregados.

No entanto, a perspectiva de monitoramento digital cerrado do comportamento dos trabalhadores preocupa defensores da privacidade, pois as empresas têm poucas obrigações legais além de informar aos funcionários.

Quando começou a trabalhar como garçom em um restaurante em Dallas, Jim Sullivan ficou sob observação não de um chefe humano, mas de um software inteligente. Ele contou que a sentinela digital seguia cada garçom, cada comanda, cada prato e cada drinque, em busca de padrões que pudessem sugerir que um funcionário estivesse cometendo furtos. Mas essa torrente de informações detalhadas geradas em computador guiou os holofotes para os trabalhadores mais produtivos.

Sullivan tinha um bom desempenho e, quando seu patrão abriu um quarto restaurante em 2012, foi nomeado gerente.

No entanto, até profissionais da área de análise do ambiente de trabalho dizem que é necessário haver regras relativas à privacidade para que esse ramo de atividade prospere.

A startup Sociometric Solutions orienta as empresas a adotarem crachás de identificação com sensores para seus funcionários. Tais crachás sociométricos, equipados com dois microfones, um sensor de localização e um acelerômetro, monitoram o tom de voz, a postura e a linguagem corporal.

Bryan Koop, desenvolvedor de programas para escritórios comerciais que trabalhou na Sociometric Solutions, disse que atualmente é moda no projeto de escritórios utilizar certos recursos para aumentar a produtividade.

"Não se sabe ainda se essas táticas funcionam", disse Koop. "O que estamos começando a ver é a possibilidade de mensurar coisas quantitativamente, em vez de nos guiarmos apenas pela intuição."

Segundo Lamar Pierce, professor-assistente na Faculdade de Administração de Empresas Olin, da Universidade Washington em St. Louis, ferramentas digitais para vigilância podem ser consideradas simplesmente boas ou más. "O maior desafio para todos nós", disse ele, "é descobrir qual o nível correto e em que contexto isso é feito."

Pierce foi coautor de uma pesquisa publicada no ano passado, que examinou o efeito de softwares de monitoramento usados em restaurantes.

Ele estudou os dados de todas as transações e padrões que sugeriam furto antes e após a instalação dos softwares em 392 restaurantes, em 39 Estados. A redução de furtos foi modesta, equivalendo a um ganho de US$ 108 por semana em cada restaurante. Mas em cada um deles a receita subiu em média US$ 2.982 por semana, ou seja, cerca de 7%, um ganho considerável em um segmento com baixa margem de lucro.

Cientes de que estavam sendo monitorados, os garçons estimulavam os clientes a pedir sobremesa ou mais uma cerveja, aumentando a receita do restaurante e suas próprias gorjetas.

Hoje em dia, Sullivan usa um software para monitorar os funcionários e comentou que os dados podem mostrar que alguém eficiente para servir várias mesas não é tão bom em vendas. Um garçom desse tipo, disse Sullivan, deveria ser orientado sobre a maneira de falar com os clientes e de sugerir certos pratos e drinques.

"Os dados me permitem avaliar melhor quem precisa ser treinado", explicou Sullivan.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

deixe aqui seu comentário