terça-feira, 22 de julho de 2014

Folha de São Paulo: Uso de bitcoins no mundo real esbarra em burocracias tecnológicas

Renata Miranda

Quando recebi a missão de passar dois dias vivendo apenas às custas de bitcoins, o primeiro receio foi ter de fazer transações pela internet. Apesar de ter quase 30 anos, comporto-me como uma senhora de bengala que prefere pagar as contas no banco, enfrentando fila e evitando o caixa eletrônico para interagir com um ser humano.

A segunda preocupação foi descobrir onde encontrar as tais moedinhas para trocar por valiosos euros. No início, nem passou pela minha cabeça a possibilidade de não encontrar estabelecimentos comerciais em Berlim que aceitassem bitcoins e ter de passar dois dias dependendo da boa vontade de estranhos.
Filipe Rocha/Editoria de Arte/Folhapress 
Antes de sair pelas ruas da cidade torrando o rico dinheirinho, comecei a pesquisar o que de fato são bitcoins. Primeiro, tive de abrir uma conta em um site corretor de bitcoins exclusivo para residentes na Alemanha.

Após um complicado processo de cadastro e autenticação, consegui entrar no mercado virtual de transferências, realizadas diretamente entre usuários –uma das maiores vantagens da moeda, dizem os entusiastas, é a ausência de bancos.

Minha ideia era comprar cerca de € 100 em bitcoins. Achei que a quantia renderia algumas boas moedas virtuais, mas quase tive taquicardia quando vi que com esse dinheiro não era possível comprar um único bitcoin inteiro –no dia em que fiz a troca, 1 bitcoin equivalia a € 475.

Com € 89,79 consegui comprar exato 0,1881 bitcoin. Fiz os trâmites de transferência bancária e esperei.

Esperei por quatro dias.

Quando tinha certeza de que havia sido vítima de mais um esquema desonesto na web, recebi um e-mail de confirmação de que as moedinhas haviam sido debitadas na minha conta. Agora, precisava encontrar uma maneira de transferir o dinheiro do computador para o celular.

COMO PAGAR

Fazer pagamentos não é muito mais difícil que usar a máquina de cartão. Primeiro, o tablet ou celular do vendedor emite um código QR –espécie de código de barras. Depois, o comprador deve escaneá-lo com o celular e inserir a senha na carteira virtual.

Outra saga teve início aí. Com um iPhone, encontrar uma carteira virtual para acomodar meus bitcoins foi tarefa árdua, já que os aplicativos mais populares do tipo foram todos retirados da loja oficial, pela Apple, no início do ano.

Apenas no meio de junho um novo app, o CoinPocket, foi autorizado pela empresa. Transferi os bitcoins para o celular e esperei sexta-feira chegar –quando comecei a gastar tudo.

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