quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Uol - Consumo de vídeo em smartphone aumenta, mas como monetizá-lo?

Uol - Consumo de vídeo em smartphone aumenta, mas como monetizá-lo?
Operadoras e companhias de conteúdo ainda não descobriram uma forma de dividir custos e receita, e entram em um impasse para defender seus interesses.

Embora os vídeos para dispositivos móveis finalmente estejam se popularizando, rentabilizá-los continua um desafio. É possível, inclusive, que operadoras e produtoras de conteúdo enfrentem diversas dificuldades financeiras antes de encontrarem uma forma de dividir custos e lucros.

As inciativas nos últimos para alavancar o setor foram muitas, mas insuficientes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Qualcomm desistiu de sua rede de TV para celulares, a FLO TV, e a Dyle Mobile TV, um serviço que ofereceria canais em formato digital para celulares de todo o país, teve seu lançamento adiado do fim deste ano para algum momento em 2012.

Ainda assim, para os executivos presentes no evento Open Mobile Summit, realizado recentemente em São Francisco, nos Estados Unidos, os vídeos para smartphones e tablets finalmente começaram adecolar. Segundo Francisco Varela, diretor do YouTube, os arquivos da plataforma são executados 400 milhões de vezes ao dia via dispositivos móveis. Além disso, a cada minuto duas horas de conteúdo são enviadas ao site a partir desses aparelhos.

Na Inglaterra, 20% da população utiliza o BBCi, um serviço online que transmite produções da agência para as principais plataformas móveis. De acordo com Daniel Danker, responsável pela área de vídeos sob demanda da emissora, a expectativa é de que em até cinco anos, o índice suba para 80%.

Leia mais: Tráfego de dados em alta e consumidores mais exigentes apavoram operadoras

No entanto, tanto os produtores de conteúdo como as operadoras dizem não ter encontrado uma maneira de lucrar com a iniciativa. O problema poderá colocar um lado contra o outro: as empresas de telecom querem que sites e serviços paguem a elas pela prioridade de acesso, ou seja, para que os consumidores acessem o que oferecem a uma velocidade maior. Estes, porém, defendem que poderão popularizar planos de dados mais caros e que, portanto, as operadoras que deveriam pagá-los para exibir o que produzem.

Os provedores de conteúdo lembram também o custo com que têm de arcar para adaptar os videos às telas menores e distribui-los, e que, ainda por cima, eles chegam a um número bem menor de consumidores do que quando os transmitem para TVs ou os disponibilizam em seus sites.

“Não é verdadeira a tese de que colocamos as coisas lá de graça e roubamos o benefício que as operadoras teriam”, afirmou Albert Cheng, vice-presidente de mídia digital da Disney/ABC. Ele diz que, caso elas comecem a cobrar, é possível que a indústria de conteúdo deixe de adaptar suas obras.

Neutralidade de redeA discussão pode ser vista como decisiva para assuntos relacionados à neutralidade de rede, acredita Art Brodsky, diretor de comunicação da Public Knowledge, um escritório de advocacia envolvido na questão. A ideia de as operadoras cobrarem por um acesso privilegiado a certos serviços trará enormes implicações à isonomia da rede. “As provedoras de conteúdo terão muito a perder caso a Internet deixe de ser aberta e passe a ser discriminatória”, disse.

O conjunto de leis acerca da neutralidade de rede foi votado ano passado pela Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC, na sigla em inglês), mas, atualmente, o Congresso está considerando revisá-lo, deixando-o mais permissivo com as operadoras sem fio do que com as de cabo. No entanto, caso elas comecem a cobrar por uma maior velocidade de acesso a certos conteúdos, uma questão legal se instauraria.

Os dois lados, naturalmente, enxergam o imbróglio de formas distintas, já que possuem responsabilidades diferentes, alega Phil Marshall, analista da Tolaga Research.

A esperança, argumenta Marshall, é que as Redes de Fornecimento de Conteúdo (CDN, na sigla em inglês) tragam um consenso. A maioria das companhias já utiliza CDNs para armazenas em cachê suas produções em data centers próximos aos do usuário. Isso contribui para aumentar a velocidade de transmissão e não sobrecarregar a estrutura.

As operadoras poderão utilizar o modelo também para assinantes de conteúdo, afirma o especialista. Ele cita como exemplo o acordo firmado em fevereiro entre Akamai e Ericsson – que possui uma das maiores bases de estações de celular – segundo o qual, a capacidade de armazenamento da Akamai será integrada à rede da companhia.

“Vejo a atividade das CDNs como catalizadora”, declarou. Essa alternativa não violaria a neutralidade de rede, pois não prioriza um conteúdo em relação a outro por meio do gerenciamento central, alegou.

Essa hipótese, porém, é só uma das opções a que as empresas poderão recorrer. A enorme variedade onde os usuários podem visualizar vídeos, além dos muitos modelos que envolvem as assinaturas e a publicidade, deverá manter o problema em aberto por algum tempo, prevê Avi Greengart, da Current Analysis. “A curto prazo, eu não vejo nada que possa solucionar toda essa questão”, disse.