segunda-feira, 13 de maio de 2013

Folha de S.Paulo: Andar digitando SMS? Logo pode haver um aplicativo para isso




Da última vez que você viu alguém trombar com um poste por estar distraído olhando o celular, é provável que tenha pensado: "Mas que idiotice". No entanto, se você fosse Juan-David Hincapié-Ramos, talvez tivesse pensado: "Ei, deveria existir um app para isso".

Hincapié-Ramos, pesquisador de pós-doutorado no laboratório de interação homem-computador da Universidade de Manitoba, em Winnipeg, Canadá, está trabalhando exatamente nisso.

Chamado CrashAlert, o sistema usa uma câmera com percepção de profundidade para perceber obstáculos e dispara um alerta na tela do celular antes que o transeunte colida com eles, permitindo que a pessoa se desloque em segurança pelos espaços públicos sem desviar o olhar do celular.

Haverá quem pense que a melhor solução seria guardar o aparelho, mas Hincapié-Ramos acredita que isso não seja realista.

"As pessoas não vão deixar de digitar mensagens de texto enquanto andam, e para incorporar [os celulares] aos nossos novos hábitos cotidianos os aparelhos terão de ajudar com relação às coisas das quais nos privam, por exemplo a visão periférica", diz.

No futuro, espera Hincapié-Ramos, a tecnologia que ele está desenvolvendo será incorporada aos smartphones, potencialmente ajudando a aliviar grande número de egos e testas feridos.

E ele acredita que essa seria apenas uma das maneiras pelas quais os celulares poderão nos ajudar a ter maior consciência daquilo que nos cerca. Os testes de um protótipo de seu sistema estão descritos em detalhe em um estudo breve que ele conduziu em companhia de Purang Irani, professor associado da Universidade de Manitoba, e que será apresentado em maio na conferência Computer Human Interaction, em Paris.

O protótipo consiste de um tablet Acer com tela de sete polegadas e um Microsoft Kinect preso às costas do aparelho - uma maneira fácil e barata, ainda que pouco confortável, de adicionar uma câmera com percepção de profundidade a um aparelho móvel. Um laptop e a grande bateria usada para acionar o Kinect são carregados em uma mochila.

A fim de simular uma tarefa que requeira concentração tão intensa quanto escrever mensagens de texto, mas também permitir que os pesquisadores meçam como os usuários são afetados pelos alertas quanto a obstáculos iminentes, Hincapié-Ramos criou um aplicativo Android que continha o jogo "Whac-a-Mole", e os oito voluntários que participaram do teste tinham de jogar enquanto tentavam caminhar por uma movimentada cafeteria. A fim de garantir que cada um dos participantes encontrasse um mínimo de quatro potenciais colisões, um voluntário era instruído a se colocar deliberadamente no caminho deles.

Os pesquisadores experimentaram alertar os participantes quanto aos obstáculos capturados pela câmera de algumas maneiras diferentes, em um retângulo posicionado no topo da tela (mas em todos os métodos, pequenos quadrados vermelhos surgiam na tela quando um obstáculo estava a dois metros ou menos).

Eles registraram por quanto tempo os participantes caminhavam sem esbarrar em nada, quantas marmotas eles conseguiam acertar no jogo e que tipo de impacto sofreram (ou evitaram).

Hincapié-Ramos diz que, quando usavam o CrashAlert, os participantes se sentiam mais seguros e se desviavam dos obstáculos mais cedo, sem comprometer seu desempenho no jogo.

Agora os pesquisadores estão desenvolvendo um protótipo integrado e trabalham para refinar o software. Hincapié-Ramos acredita que seria fácil para os fabricantes instalar nos celulares um sistema de sensores para a presença de obstáculos.

No futuro, ele acredita que esses sistemas de visão computadorizada poderiam dar aos celulares uma percepção mais aguda daquilo que cerca seus usuários.

Os objetivos de longo prazo do projeto podem ser úteis, mas a ideia do CrashAlert incomoda ao menos uma pessoa: o professor Clifford Nass, da Universidade Stanford, que estuda interação entre seres humanos e computadores. Ele vê o app como "epítome do isolamento quanto ao mundo físico e social".

"Por que desejaríamos encorajar as pessoas a se desconectarem do mundo?", ele questiona.

Mas Juan Pablo Hourcade, professor associado de interação homem-computador na Universidade de Iowa, diz que, embora as pessoas que venham a empregar o CrashAlert possam ter menos motivos para prestar atenção àquilo que as cerca, o app talvez as encoraje a um maior envolvimento social, ao informar quando há amigos por perto.

Fonte:  METZ, RACHEL . "Folha de S.Paulo - Tec - Andar digitando SMS? Logo pode haver um aplicativo para isso - 13/05/2013." Folha Online. http://www1.folha.uol.com.br/tec/2013/05/1272487-andar-digitando-sms-logo-pode-haver-um-aplicativo-para-isso.shtml?utm_source=feedly (accessed May 13, 2013).

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