segunda-feira, 22 de julho de 2013

Folha de S.Paulo: Análise: Os prós e contras de uma sociedade de vigilância



Aqui nos EUA, só existem três assuntos hoje: o programa de vigilância Prism; a morte de Trayvon Martin; e o Google Glass e a ascensão dos computadores "vestíveis", capazes de registrar tudo que cerca aqueles que os usam.

Ainda que essas coisas não pareçam estar conectadas, são parte de um crescente movimento em direção a, ou de combate a, uma sociedade de vigilância.

De um lado temos quem diga que vigilância demasiada, especialmente na forma de câmeras e computadores "vestíveis", é prejudicial por violar o direito à privacidade nos espaços públicos.

Do outro há quem argumente que uma sociedade com câmeras em toda parte tornará o mundo mais seguro e permitirá responsabilizar os criminosos por suas ações.

A questão aqui é: queremos viver em uma sociedade de vigilância que poderia garantir justiça para todos, mas privacidade para ninguém?

No caso de Martin, um adolescente negro desarmado que foi morto com um tiro por George Zimmerman, membro de uma organização de vigilância de bairro, a prova decisiva como começou a briga entre os dois -que resultou na morte de Martin- é a palavra de Zimmerman.

Como visto no tribunal, todos os relatos das testemunhas diferem. Claramente a memória de um -ou de todos eles- foi prejudicada pelo tempo, pela confusão e pela adrenalina da situação.

Mas se uma dessas testemunhas -incluindo Martin e Zimmerman- estivesse usando um Google Glass ou qualquer outro dispositivo pessoal de gravação, os fatos daquela noite teriam ficado muito mais claros.

"Sempre que acontece alguma coisa misteriosa, nos perguntamos por que não é possível voltar a fita ou recorrer ao banco de dados", diz Jay Stanley, analista sênior de políticas públicas na União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), em Washington. "Queremos seguir a trilha de dados e saber tudo que seria preciso saber. A grande questão é: quem estará no controle de todos esses dados e registros?"

O Prism, um programa altamente sigiloso do governo revelado no mês passado pelas denúncias de um prestador de serviço, é um exemplo de registro e manutenção de dados em escala muito maior. O presidente Obama defendeu os programas de espionagem do governo, afirmando que eles ajudam na luta contra o terrorismo e garantem que os norte-americanos continuem em segurança.

Mas críticos dizem que o programa exagera. O deputado federal republicano James Sensenbrenner, veterano legislador do Wisconsin, comparou a atual vigilância do governo ao Grande Irmão de "1984", romance de George Orwell.

Michael Shelden, autor de "Orwell: The Authorized Biography", disse em entrevista à rádio NPR norte-americana, alguns dias atrás, que a sociedade de vigilância atual é muito parecida com aquela que o livro descreve.

Orwell, diz Shelden, "podia ver que a guerra e a derrota de um inimigo poderiam ser usados como motivo para vigilância política intensificada". Ele acrescentou que "você estava lutando uma guerra sem fim que oferecia uma desculpa igualmente sem fim para bisbilhotar a vida das pessoas".

A coleta de dados e a vigilância por vídeo só continuarão a crescer, à medida que a tecnologia invade novas áreas de nossa cultura, quer integrada aos nossos corpos na forma de computadores vestíveis quer voando sobre nossas cidades na forma de drones (aeronaves de pilotagem remota) baratos que vigiam as pessoas do alto.

O que as pessoas podem fazer, assim? Aqueles que desejam proteger as liberdades civis dizem que talvez a única resposta seja ainda mais câmeras, para propiciar algum equilíbrio.

"Nas mãos de um indivíduo, uma câmera de vídeo pode ser uma ferramenta de poder", disse Stanley. "Mas quando empregada pelo governo para vigiar os indivíduos, ela tem o efeito oposto sobre as pessoas".

Fonte: BILTON, NICK . "Folha de S.Paulo - Tec - Análise: Os prós e contras de uma sociedade de vigilância - 22/07/2013." Folha Online. http://www1.folha.uol.com.br/tec/2013/07/1312981-analise-os-pros-e-contras-de-uma-sociedade-de-vigilancia.shtml (accessed July 22, 2013).

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