segunda-feira, 12 de maio de 2014

Folha de S. Paulo: Sites vendem amigos, seguidores e "curtidas" nas redes sociais

Nick Bilton

Há diversos serviços na web que permitem a usuários de redes sociais comprar bots, abreviação de "robots" (robôs), o que faz com que celebridades pareçam mais populares e até mesmo possibilita aos compradores influenciar agendas políticas.

Quem diz que "dinheiro não compra amigos" parece não ter visitado a internet nos últimos tempos.

Na semana passada, adquiri 4.000 novos seguidores no Twitter por US$ 5. Pelo mesmo valor, comprei 4.000 amigos no Facebook, e por alguns dólares a mais cerca de metade deles curtiu uma foto que postei.

Se eu estivesse disposto a desembolsar US$ 3.700, poderia ter adquirido 1 milhão –sim, 1 milhão– de novos amigos no Instagram.

E por mais US$ 40, 10 mil destes novos amigos teriam curtido uma das fotos de crepúsculos que postei.

Retuítes. Favoritos. Comentários. Curtidas. Visitas –pode escolher: tudo isso está à venda em sites como o Swenzy, Fiverr e outros.

Muitos de meus novos amigos vivem fora dos Estados Unidos, em sua maioria em Índia, Bangladesh, Romênia e Rússia, e eles não são exatamente humanos. São bots, um tipo de software, mas foram criados para se comportar como se fossem pessoas em sites de mídia social.

QUASE REAIS
Os bots existem há anos e costumava ser fácil distingui-los. As fotos que usavam para seus avatares eram genéricas (muitas vezes de mulheres sensuais), os nomes eram gerados por computador (como Jens934107) e as coisas que compartilhavam eram lixo puro (em geral links para sites pornográficos).

Mas os bots atuais têm nomes que soam reais, para camuflar melhor as suas atividades. Seguem horários humanos, suspendendo suas atividades durante a madrugada e as retomando pela manhã. Compartilham fotos, riem das piadas alheias e até se envolvem em conversas uns com os outros. E eles existem aos milhões.

Esses cidadãos imaginários da web têm poder surpreendente, conferindo mais popularidade a celebridades e aspirantes a essa condição, e fazendo com que companhias pareçam mais queridas do que são de fato; eles influenciam a opinião pública sobre cultura e sobre produtos, e em alguns casos influenciam agendas políticas.

Os bots muitas vezes divulgam hashtags –placas on-line indicando o caminho de uma determinada discussão– sobre pontos de vista opostos aos que seus controladores defendem, para tentar confundir as pessoas ou redirecionar discussões.

Durante a eleição presidencial mexicana de 2012, o PRI (Partido Revolucionário Institucional) foi acusado de usar milhares de bots a fim de soterrar as mensagens dos partidos a que se opunha no Twitter e no Facebook.

Diz-se que o PRI usou truques, distorcendo e alterando a linguagem de discussões o suficiente para confundir as pessoas quanto ao que exatamente os partidos adversários estavam dizendo.

Um homem com quem conversei e só se identificou como "Simon Z" opera a Swenzy, que ele diz ter sede nos Estados Unidos. A empresa vende seguidores, curtidas, downloads, visitas e comentários em redes sociais.

Ele diz que sua companhia usa inteligência artificial e outras manobras digitais com o objetivo de escapar aos caçadores de bots dos grandes grupos de internet como Google, Facebook e Twitter, que dedicam muito esforço a tentar eliminá-los de seus sites. Às vezes esses esforços funcionam –ao menos por algum tempo.

Antes da oferta pública inicial de ações do Twitter, a empresa eliminou milhões de bots do serviço.

Ao longo dos anos, o Google reduziu em centenas de milhões a contagem de visitas a determinados vídeos, por atribuí-las a bots.

Simon Z diz que hoje opera 100 mil robôs muito avançados, ativos em diversas redes, entre as quais YouTube, Facebook, Twitter, Vine, Instagram e SoundCloud.

Quando os compradores encomendam bots em grande volume, ele diz que pode recorrer a "fornecedores clandestinos", que operam exércitos de bots ainda maiores.

Não é ilegal ser dono de um bot, ou criá-lo. A legalidade dependerá de como as pessoas utilizem o recurso. O uso dado a eles muitas vezes contraria as normas dos sites de redes sociais.
falsos motoristas

Por enquanto, os bots são enganosos de modo simples, iludindo outras pessoas a imaginar que alguém seja popular, ou defendendo uma causa. Mas à medida que a sofisticação dos bots crescer, diz Wesson, eles podem se tornar mais perigosos.

Em março, dois estudantes do Technion (Instituto de Tecnologia de Israel), programaram um enxame de bots que causou um falso congestionamento de trânsito no Waze, um software de navegação criado no país e controlado hoje pelo Google.

O projeto, uma demonstração para um trabalho acadêmico, era tão sofisticado que os estudantes conseguiram criar robôs que imitavam celulares Android, acessando falsos sinais de GPS, e operados por falsos seres humanos que dirigiam falsos carros.

O Waze acreditou que os bots estavam na rua, e começou a redirecionar tráfego a outras vias. Assim, cuidado com os amigos bots que você fizer. Se o bot em questão tiver um ponto de vista político diferente, ele pode se voltar contra você. Ou tentar fazê-lo perder o caminho.

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