segunda-feira, 30 de junho de 2014

Folha de S. Paulo: Análise: O Google está tentando ir longe demais?


Farhad Manjoo

Uma maneira de pensar sobre o Google é como um assistente muito prestativo, muito bem informado e hiperinteligente. Os serviços do Google já podem nos lembrar de um voo, abrir o cartão de embarque quando chegamos ao aeroporto e oferecer instruções sobre como chegar de carro ao hotel, ao pousarmos.
Se aquilo que a companhia mostrou em um evento para criadores de software na quarta-feira for uma visão real do futuro, o Google em breve participará ainda mais de nossos vidas, instalado em todo tipo de aparelho que possamos usar. O software estará disponível para ajudar os usuários a satisfazer qualquer forma de curiosidade ociosa e realizar qualquer tarefa, sempre que eles assim desejarem.

É uma agenda muito ambiciosa —e esse pode ser o problema da companhia. Para uma empresa cujo futuro depende de as pessoas fornecerem informações a ela voluntariamente em troca de serviços online muito úteis, as ambições mesmas do Google podem se tornar seu maior obstáculo. Será que o Google, com seu alcance mundial, não está tentando demais e correndo o risco de se tornar sinistro em lugar de útil —como um assistente executivo que se tenha tornado muito poderoso e saiba demais?

Larry Page, um dos fundadores e presidente-executivo do Google, em entrevista na quarta-feira durante o evento em San Francisco, descreveu o Android e o Chrome, o sistema operacional móvel e o navegador da empresa, como uma espécie de cola que unirá todos os aparelhos que usaremos no futuro. "Estamos falando de um mundo multitelas há já muito tempo", disse Page. "Acredito que o veremos culminando em algo que oferecerá uma experiência excelente em muitos tipos diferentes de aparelhos, de relógios a televisores, passando pelo laptop, o tablet e o celular".

Mas Page reconheceu que a novidade e escopo desses aparelhos poderiam causar preocupação aos usuários. "Todo mundo sabe que sua vida será afetada, mas ainda não sabemos exatamente como, porque não estamos usando essas coisas –e porque ainda existe muita incerteza", ele disse.

O Google se tornou alvo de sucessivos ataques, recentemente, como parte do que parece ser uma crescente resistência ao setor de tecnologia. O Glass, óculos dotado de acesso à internet, é alvo frequente de piadas. Em resposta à decisão de um tribunal europeu afirmando o chamado "direito a ser esquecido", o Google vem recebendo um dilúvio de solicitações de usuários que querem que o serviço de busca remova os links que conduzem a eles em seu índice.

Muitos dos novos serviços do Google melhorarão o modo pelo qual os computadores trabalham ao combinar dados pessoais e informações recolhidas por sensores para criar o que a empresa designa como experiências "cientes do contexto".

Hoje a computação principalmente automatiza coisas para você, mas quando todas essas coisas estiverem conectadas será possível começar a ajudar as pessoas de maneira mais significativa, ouviu-se no palco na semana passada. Exemplo: se vou apanhar meus filhos, seria bom que meu carro soubesse quando eles entraram no carro e que mudasse a música para algo apropriado a eles.

Mas não há dúvida de que isso viria também acompanhado por uma perda de privacidade que algumas pessoas podem considerar grande demais.


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